Jesus segue minha cartinha, realmente meditei bastante esses últimos dias, dias que eu me senti realmente sozinho, somente você e eu. Confesso que escrever isso chega a me deixar com lagrimas nos olhos, mas é necessário. Quando eu era mais jovem, ao receber Teu chamado, fiquei muito agradecido e feliz, porquanto você lembrou de mim em planos.
De fato, para alguém que nasceu dentro de uma igreja que era mais fria que um cubo de gelo se desviar foi um passo rápido, depois sim eu Te conheci, escutar a Tua voz foi algo impactante. Porém, hoje percebo que não dimensionava o que havia de enfrentar.
Não da pra esquecer que, imediatamente, sem pestanejar, abracei a ideia de ser pastor. Em miniatura de Abraão, sem saber ao certo o que me aguardava, dediquei-me e engajei-me nos Teus projetos, fiz teologia, anos escutando coisas boas e coisas ruins.
Apesar das tantas dificuldades, por decepcionar os sonhos de muitas pessoas, preocupei-me em obedecer (I Sm. 15:22), sufocando as minhas emoções. No seminário eu eu achava que tínhamos todos, como Teu povo e como Teu Corpo (Rm. 12:5; I Co. 12:12), o mesmo propósito e a mesma determinação e foi, então, que tudo mudou, anos depois quando calado dentro de uma igreja eu começo minha historia.
Estou, cansado e desiludido, nessa humilde carta venho expressar-Te os motivos de meu insucesso em atender às Tuas solicitações.
Tenho que falar a real Jesus. É necessário dizer que apenas na convivência com os Teus outros filhos pude perceber minhas gritantes e terríveis limitações. Fora que, vi-me tolhido e impossibilitado de cumprir Teus desígnios, e entendi que não posso Te servir por razões que estão além de meus esforços individuais. Tais limitações só foram demarcadas no convívio eclesiástico, porque em mim faltam várias particularidades que sobram em outros vocacionados.
Por exemplo, eu tenho muitas falhas, mas, não criei o hábito de ser cínico ou hipócrita, como tantos se acostumaram a ser apenas para não perderem a membresia e a admiração narcisista que nutriram em torno deles mesmos. Saca quando você entra numa comunidade e as pessoas falam: Eu te amo. Somos sua família. Mas você não sente o barato real? Foi isso.
Quem eu sou é algo que não consigo – e me recuso – mascarar, da mesma forma que não sei omitir-me diante do que está errado. Eu percebi que, tanto para quem lidera quanto para quem é liderado, um pastor não pode cometer ou ser passível de erros e, também, não pode repreender as ovelhas dos caminhos maus que seguem, fora que você tem um grupo fixo de pessoas que concordam com você o tempo todo, e um grupo que fica semeando a discórdia no seu ouvido. Eu tenho falhas que prefiro fazê-las notórias, a fim de que todos saibam que perfeição só há em Ti (Ef. 4:13; Cl. 1:15; Hb. 7:28) e que não é por causa das minhas falhas, ou das falhas de quem quer que seja, que somos impedidos de amar uns aos outros tal como nós somos (Rm. 12:10; I Pe. 1:22; I Jo. 3:14; 4:20). E, se por um lado tenho alguns defeitos, por outro não tenho nenhuma espécie de medo em declarar a verdade e anunciar a Tua lei (Mt. 10:27; Cl. 1:28), pois prefiro encontrar-me com meu irmão no céu (Ez. 3:20), ao vê-lo ir para o inferno.
É intrigante demais o comportamento das pessoas. A idéia nutrida é que pastores não erram e ovelhas não podem ser redargüidas. O resultado, então, do pecado de um líder é quase um martírio. Contudo, a conseqüência do pecado de uma ovelha é “essas coisas acontecem”.
Logo, em se tratando especificamente de minha pessoa, jamais soube omitir minhas falhas e limitações. Eu realmente tenho uma dificuldade muito grande de não ser honesto. Eu não sou honesto quando eu vejo que as pessoas não estão sendo também honestas, mas eu apelo esse é meu “mal”. Eu compreendo a conduta cristã diferente de alguns, pois, para mim deve servir de exemplo (I Tm. 4:12), e não moldar-se em fachadas. Ora, como ainda não somos perfeitos (Fp. 3:12), só serve de exemplo aquilo que é bom (Is. 55:2; Rm. 15:2). A Tua Palavra ensina que há a universalidade sugestiva do pecado (I Jo. 1:10), desta maneira, ninguém pode alegar-se melhor que – ou superior a – seu irmão (Fp. 2:3; Hb. 10:24). Eu não entendo como dentro de igrejas tem um abismo de ministérios ou de pessoas que fazem essa frase “somos todos iguais” virar um “coco” indo descarga a baixo.
A sociedade ainda incorpora elementos místicos em sua subjetividade, levando a idéia papal para o relacionamento religioso. Em outras palavras, Tuas ovelhas ainda imaginam que os líderes são inerrantes. Logo, Senhor, pessoas semelhantes a mim, que não sabem esconder seus defeitos e que preferem falar a verdade no lugar de se esconderem em capas de mentira, não podem (e não ganham) espaço nos meios cristãos. É necessária uma leve pitada de hipocrisia temperada com aromas de cinismo, ou seja, é melhor transparecer o que não é. Como se não fosse o suficiente, percebi, tardiamente, que eu não sou a espécie de candidato que cai na graça da comunidade eleitoreira. Neste impasse, porque me autoavaliei, eu não sei se estou inteiramente certo, mas, parece que não é bem quisto aquele que só fala a verdade (Jo. 6:60). Confesso que fiquei sem saber se sou demasiadamente ingênuo e chato, ou se o Teu povo de fato goste de ouvir contos e fábulas míticas acerca de suas próprias vidas (II Tm. 4:4). Eu li na Tua Palavra que é dever de quem lidera falar sempre a verdade (Ex. 18:21; Ef. 4:25), ainda que “doa a quem doer”, deve se anunciar a verdade em todo tempo (II Tm. 4:2), pois, o fim da vida comum em igrejas é o aperfeiçoamento do caráter (I Co. 2:16; Cl. 2:6) e a preparação para a Tua volta (I Ts. 5:23; II Pe. 3:12; I Jo. 2:28).
Embora eu tenha HOJE me esforçado para velar por Tua Palavra, fiquei admirado ao verque alguns da “minha família”, alguns de Teus filhos, me criticavam, ao invés de estarem satisfeitos por serem redargüidos a desviarem-se do erro (Ez. 3:18, 19; II Tm. 4:3). Já que não há em mim nenhuma veia teatral e o ibope não é minha preocupação, não fui hábil o suficiente para agradar Teus filhos levando-lhes mensagens que valorizam o que são sem corrigir-lhes o que fazem. Inexiste em mim a malícia politiqueira. Tenho incrível inaptidão para confortaro ego das pessoas, prefiro agradar Teu coração. Em resumo, Senhor Jesus, sou um incrível fiasco como candidato a pastor.
Ah, Senhor! Tantas coisas eu nem soube aprender. Oramos por bênçãos, casas, salários, dinheiro, empregos, viagens, automóveis, empresas, negócios, mas, como é possível que Tu voltes para nos buscar, se nem oramos por isso (Ap. 22:17)? Discordo completamente dos que procuram uma felicidade nesse mundo tenebroso (Mt. 10:39; I Jo. 2:15, 16; 4:4; 5:19), pois, assim não era o coração de Teus discípulos (At. 20:24; Fp. 1:21), ou dos grandes homens que na história Te adoraram, e amar as riquezas traz desolação (I Tm. 6:10).
Senhor, minha mãe não me ensinou a me vender, nem me dobrar e nem servir a homens. Eu não sei enganar as pessoas com meias ou falsas verdades, como fazem outros, a fim de que as pessoas façam o que dizem ser o melhor para elas, quando, na verdade, é apenas o melhor para si mesmos. Como anunciador das boas novas (Sl. 68:11; Is. 52:7), tudo o que sei fazer é ensinar-lhes de uma maneira mais fácil aquilo que já está contido em Tua Palavra. A mim não é possível assumir a culpa ou desejar as melhores coisas no lugar de outrem.
Ao anunciar a Tua Palavra, só posso desejar que a semente caia em bom terreno (Mc. 4:1-20), e cresça, porém, o resto é entre eles e o Senhor (I Co. 3:6).
Parece que te amar acima de todas as coisas (Mt. 22:37-39), e amar ao meu próximo (Tg. 2:8), não está mais na moda e para alguns é ir contra outros lideres ou contra a sagrada igreja. Ainda que meu coração arda por Tua obra, não houve oportunidade ou espaço concedido (sequer compreensão) para que eu pudesse apresentar aos demais o pouco que me concederas. Hoje, tenho encontrado tantas dificuldades em anunciar a verdade, pois, não sou bem quisto com meu estilo de falar. Há oportunidade para o recém convertido que nem foi discipulado ou batizado, contudo, como era famoso no mundo, todos querem mostrar sua “conversão”.
Há oportunidade para o adivinho que brinca com a ingenuidade do Teu povo, iludindo com falso profetismo (Ez. 13:3; Mt. 24:11, 24; I Jo.4:1) acerca de promessas que nunca chegam. Há oportunidade para o leigo que não é instruído e que não se preparou adequadamente (II Tm. 2:15) para pregar a Tua Palavra. Há lugar para o doutor em teologia (II Pe. 2:1), tão estudado e tão preparado que nem crê mais que o mar vermelho se abriu (Ex. 14:21), e questiona seriamente como os cavalos e os cavaleiros de faraó morreram afogados num arrecife (Ex. 14:27, 28). Há oportunidade para o super-espiritual, que anuncia novas revelações (Gl. 1:8). Todavia, ao teor de meu conteúdo não houve lugar.
Enfim, de tantas experiências amargosas, venho reportar ao Senhor da Seara (Lc. 10:2) que não consigo espaço para difundir a Tua Palavra e desenvolver o ministério confiado. Eu tenho me empenhado de diversas maneiras, para não ser duramente cobrado (Mt. 25:14-30). Ainda que assim seja, preciso informar, todavia, que não quero participar deste povo que deturpa o Teu evangelho, uma vez que sei que há joio e trigo e que nem todos que Te invocam herdarão a vida eterna (Mt. 7:21; 13:25-29). Prefiro manter meus pés na lâmpada (Sl. 119:105) e crer no conteúdo da Palavra para não ser por ela condenado (Jo. 12:48; II Tm. 3:16). Prefiro permanecer nas Tuas Palavras (Jo. 8:31; 15:7) e ser bem aventurado (Sl. 1:2). Prefiro fugir daquilo que não aparenta ser luz (I Ts. 5:22; Lc. 11:35; II Co. 6:14).
Como se tudo isso não fosse suficiente, eu ainda não sei competir no mercado pastoral. Creio que os Teus filhos não devam invejar ou falar mal uns dos outros (Rm. 12:10; I Co. 12:23; Gl. 5:15, 26; Ef. 5:21; Cl. 3:9; Tg. 3:16; 4:11; I Pe. 2:1), tão pouco acredito que no Teu reino as coisas funcionem pela força do homem, sim pela força do Teu Espírito (Zc. 4:6). Então, quando olho para um amigo de ministério, ocupe qualquer cargo para o qual Tu o tenhas chamado, vejo nele uma parte do Teu Corpo (I Co. 12:25-27), um parceiro, e não um adversário. Eu sei, pela Tua palavra, que no Teu Reino há lugar para todos, já que cada um desenvolve uma tarefa em particular (I Co. 12:29, 30; I Pe. 4:10), logo, não tenho motivos para intrigar-me de meu irmão simplesmente por dividir com ele o mesmo ministério, já que tudo provém de Ti (I Co. 12:11, 18).
Desta maneira, Senhor Jesus, não tenho obtido sucesso, porque há muita contrariedade com a Tua Palavra, e muito homem no lugar do Teu Espírito. Então, venho pedir que observes com carinho minha situação e a tarefa nada fácil de pregar a verdade a despeito das pedradas que serão atiradas.
É por isso que não posso ser pastor, porquanto busco não ser insensato ou mercador, não busco comer a gordura e vender a lã do Teu rebanho (Zc. 11:15-18).
Agradeço a confiança que depositaste em mim, os sonhos que você colocou em minha mente, o desejo de falar abertamente de Cristo, o seminário que eu paguei, aos meus amigos verdadeiros, espero em um futuro próximo, ainda nesta vida, cumprir o plano que traçaste – o que espero que já esteja acontecendo e tudo faça parte deste eterno propósito – ainda que muitos não queiram e que eu ainda não entenda. Fica aqui a confissão de meu amor e que tudo o quanto faço é por te amar incondicionalmente. Beijos, Senhor, e que me abençoes.