31 de agosto de 2011

Modismos teológicos de nossos dias e seus contrassensos à luz da Bíblia

Hoje, falaremos sobre os modismos da guerra espiritual, dos jogos de azar na igreja, do monofisismo e das corrupções da música na igreja.
Guerra espiritual
Também é conhecida como "batalha espiritual". O que muitos estão chamando de guerra espiritual é um logro do inimigo, e não a verdadeira guerra ou luta espiritual de que fala Paulo em Efésios 6.10-18, e muitas outras passagens correlatas da Bíblia.
De nada adianta o uso de uniformes especiais, palavras de ordem (como “queimar” ou “pisar” Satanás e seus domônios), certos cânticos repetidos indefinidamente, jejuns encomendados, locais especiais de reuniões (como orar em montes etc), convidados especiais para falar, barulho ensurdecedor e gritos estridentes, se não estivermos biblicamente em Cristo, segundo a Palavra de Deus, e no poder do Espírito Santo (Jo 15.7).
Quanto aos demônios, o que os inovadores da doutrina estão a fazer é:
a) Impor as mãos sobre os endemoninhados (!?!)
b) Chamar endemoninhados à frente (!?!)
c) Dialogar com demônios em público (!?!)
O demônio pode até sair, mas volta; ou entra noutra pessoa, ou ainda entra em muitas outras pessoas.
Qual a razão desses inovadores quererem dialogar com demônios? Para ouvirem confissões tétricas de demônios (ou supostos demônios). Isso equivale a divulgar os demônios, e é isso o que eles querem.
Jesus mandou-nos chamar os pecadores e expulsar os demônios. Hoje estamos vendo certos pregadores chamando os demônios e expulsando os pecadores. Sim, porque estes saem das reuniões confusos, sem saber se estavam num culto legítimo ao Senhor ou numa sessão espírita.
A chamada guerra espiritual, como está no momento caracterizada, é uma falsa operação divina. Há libertação de demônios, profecias e milagres falsos.
Sobre falsas profecias, o Mestre já nos advertiu. Em Mateus 7.22-23, encontramos Jesus fazendo referência a pessoas que não serão aceitas pelo Senhor apesar de colocarem: “Não profetizamos nós em teu nome?” Isso também tem a ver com falsos pregadores. Sobre falsa libertação de demônios, no mesmo texto encontramos: “E em teu nome não expulsamos demônios?” A resposta do Senhor foi a mesma (Mt 7.23). O evangelista deve atentar para isso. Sobre falsos milagres, no mesma porção bíblica temos: “E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” A resposta foi idêntica (Mt 7.23). Sobre isso podemos também ver 2 Tessalonicenses 2.9-11 e Apocalipse 13.13-14.
Jogo de azar
Esse tipo de jogo é assim chamado porque depende do acaso, da sorte. Um só ganha e todos os demais perdem. Tal princípio, conceito ou procedimento não tem qualquer aval das Escrituras. É o caso da loteria, jogo do bicho, roleta, jogo de cartas, apostas, rifas e raspadinhas.
Os princípios bíblicos de meio de vida e de trabalho, em geral, conflitam abertamente com o jogo (Gn 3.19; Ex 20.9; Lv 19.13; Pv 10.22; Jr 22.13; 1Co 6.12 e 10.31; Mt 20.2; 2Ts 3.8-12 e 1Ts 5.22).
Um verdadeiro crente foge de qualquer tipo de jogo.
O monofisismo modificado da atualidade
Isso diz respeito a Jesus, sua divindade e humildade; a natureza divina e a humana perfeita do Senhor.
Falsas doutrinas nesse particular vêm dos primórdios do cristianismo: arianismo, eustaquianismo, nestorianismo etc.
Dizem os falsificadores da doutrina, inclusive alguns professores de seminários teológicos, que “quando Jesus tomou forma humana e encarnou-se, deixou sua natureza divina no céu; e quando Ele voltou para o céu, deixou aqui a sua natureza humana”.
Na sua encarnação, Cristo, sendo Deus, tornou-se “Filho do Homem” (como Ele costumava chamar-se a si mesmo). No glorioso e grandioso mistério da sua encarnação, Ele limitou-se voluntariamente de parte de seus atributos divinos, mas não da sua natureza divina, Nele imanente como Deus. Assim, Ele era (e continua a ser) o perfeito Filho de Deus e o perfeito “Filho do Homem” (Is 9.6; Mt 28.19; Jo 1.1,14; 3.13; 14.9 e 10.30; Lc 24.39-40; Rm 9.5; Cl 2.9; 1Tm 2.5; Hb 1.8 e Ap 1.13,18). É a kenosis de Jesus, conforme Filipenses 2.7-8, expressão grega traduzida em português por “aniquilou-se a si mesmo” e “humilhou-se a sim mesmo”.
A autolimitação voluntária de Jesus, ao tomar corpo humano na sua encarnação, é um dos grandes mistérios da revelação divina, que só compreendemos em parte (1Tm 3.16).
Corrupção da música na igreja
A oração e o ministério da Palavra foram praticamente substituídos hoje pelo cântico nas igrejas. O ministério da Palavra a que me refiro é a pregação e  o ensino da Palavra.
Os neopentecostais e os “renovados” ensinam que “a mais elevada forma de oração é o louvor”. Isso é  falsificação da doutrina. Como resultado, as antigas vigílias de oração da Assembléia de Deus foram transformadas em “vigílias de louvor”, que no final das contas nem é vigília e nem louvor, no sentido estrito destes termos.
Qual é a procedência dessas músicas? A maioria esmagadora vem dos neopentecostais (alheios à doutrina bíblica). Também vêm do movimento espúrio “Voz da Verdade”, que, entre outras coisas, é unicista; dos mórmons, que são heréticos; dos carismáticos, que são “joio no meio do trigo”, e dos adventistas, que são exímios torcedores da Palavra de Deus.
A corrupção da música sacra em nosso meio ocorre por não haver seleção, critérios de aceitação e nem aferição com a Palavra de Deus, como fizeram os bereanos em Atos 17.11, “examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”. Vejamos as manifestações dessa corrução:
a) Corrução na letra das canções: A letra, via de regra, não tem Bíblia nem mensagem para a alma. Também não tem métrica, e a letra é geralmente péssima.
b) Corrução na melodia da canção: Não tem seqüência melódica, frase musical e tema musical. São idênticas às melodias do mundo, sem nada de solene.
c) Corrupção no ritmo da canção: Ritmo irreverente, puramente secular, coisa que o mundo faz muito melhor do que a igreja quando esta o copia. Ritmo ou cadência é o movimento interativo dos sons.
d) Corrupção no andamento da canção: Andamento é a rapidez da execução dos sons na música. O andamento nessas músicas, via de regra, não tem nada de espiritual, nem solene, nem sacro.
e) Os autores dessas músicas: Devem ser adeptos desse evangelho frouxo que hoje surge por toda parte, que fala em “liberdade” quando eles mesmos são escravos, como diz a Bíblia em 2 Pedro 2.19. Se esses autores fossem realmente homens e mulheres de Deus vivendo e andando no seu temor, jamais fariam tantos desvios nas músicas que produzem.
f) O efeito dessas músicas: São espiritualmente negativas. Seu efeito é nulo. São músicas que, cantadas, tocadas e recitadas, não elevam a alma a Deus, não predispõem o espírito a adorar a Deus, não inspiram, não preparam espiritualmente o ambiente à manifestação divina, não levam o povo salvo a glorificar a Deus “em espírito e em verdade”.

Por Pr. Antônio Gilberto

21 de agosto de 2011

Onde devo congregar? Ainda existe igreja saudável?

 

Em meio a tanta confusão nos arraiais evangélicos, muitos preferem servir a Cristo em seus próprios lares, engrossando assim a fileira da igreja que mais cresce no Brasil e no Mundo: a dos desigrejados. Seu desapontamento com a igreja instituída fez com que agissem como Elias, o profeta solitário que cansou-se de nadar contra maré de corrupção que abatera sobre Israel, planejando terminar seus dias confinado numa caverna. O que ele não sabia é que Deus havia preservado sete mil pares de joelhos que não haviam se dobrado a Baal.

Basta visitar alguns dos milhares de blogs que povoam a blogosfera cristã para certificar-se de que ainda há esperança. A blogosfera transformou-se numa enorme congregação virtual. Gente oriunda de todos os setores da igreja cristã tem a liberdade de expor seu descontentamento com o rumo que a igreja tem tomado.

Como pastor, preocupo-me com aqueles que simplesmente desistiram de congregar e se alimentam unicamente do que é postado em nossos blogs. Precisamos muito mais do que isso. Precisamos construir relacionamentos sólidos, submeter-nos a uma liderança madura e respaldada na Palavra, encaminhar nossos filhos a um ambiente saudável, sentir-nos pertencentes a uma família espiritual, e mesmo, contribuir financeiramente com projetos que visem a glória de Deus e o bem-comum.

Daí surgem algumas questões pertinentes:

Poderíamos congregar numa igreja que não fôssemos capazes de recomendar a outros? Sentir-nos-íamos constrangidos e desconfortáveis em trazer nossos amigos e parentes a um culto?

Que tipo de igreja proveria um ambiente seguro e saudável para os nossos filhos? Que igreja poderia ajudar-nos na formação do caráter deles sem intrometer-se em assuntos domésticos e particulares, e sem expor nossa autoridade como pais? Há igrejas onde o pastor se vê no direito de estabelecer regras nos lares de seus congregados. Filhos crescem sem saber se devem honrar a seus pais ou obedecer cegamente a seus líderes espirituais. Imagine um pastor que exija ser chamado de “pai”, ou ser tratado como tal. Ou ainda: o desconforto de um pai cuja autoridade é rivalizada pela autoridade pastoral.

A que tipo de liderança deveríamos nos submeter? Um pastor que não é respaldado por sua própria família (pais, irmãos, filhos, esposa, etc.), estaria apto a mentorear outras famílias? E quando todos percebem que entre ele e a esposa não há amor? Você se submeteria a um pastor cujo casamento não passasse de um embuste? Que tipo de tratamento ele dá aos filhos? A famíla pastoral deve ser referência. Não digo que deva ser perfeita, mas pelo menos saudável.

Seria sábio submeter-nos a uma liderança susceptível a todo tipo de modismo doutrinário? Hoje prega uma coisa, amanhã prega outra totalmente difirente? Seria correto submeter-nos a uma liderança emocionalmente desequilibrada? Como nossos pastores reagem ante a uma crise? Como reagem quando são elogiados? E quando são criticados? Costumam trazer problemas de casa para o púlpito, ou vice-versa? Gostam de apelar ao emocionalismo? Gostam de tornar as pessoas dependentes deles?

Seria sábio submeter-nos a uma liderança antiética? Quem suporta um pastor que só sabe falar mal dos que o antecederam? Você se submeteria a um pastor que sequer sabe ser grato a quem o instituiu? E mais: com quem ele anda? Quem são seus amigos? Quem freqüenta sua casa? Não me refiro a amizade com pessoas não cristãs, e sim a amizade com falsos cristãos, lobos infiltrados no meio do rebanho para causar-lhe dano.

Como acolhem as pessoas que chegam a igreja? Dão o mesmo tratamento independente da posição social? Desprezam os veteranos para dar maior atenção aos novatos? Como são tratados os anciãos? Lembre-se que um dia você será um.

E quanto às contribuições? Seria sábio contribuir numa igreja onde a liderança é pródiga? É correto o pastor fazer compromissos maiores do que os que a igreja possa arcar e depois escapelar os irmãos na hora das ofertas? Como as ofertas são pedidas? Há muita apelação, manipulação e pressão psicológica? E como elas são administradas? A quem o pastor presta contas? Há uma instância acima dele? O que entra na igreja é usado exclusivamente ali ou parte é destinada a trabalhos missionários? Há projetos sociais relevantes? Que resultado esses projetos têm alcançado?

É correto usar o dinheiro da igreja para pagar cachês a cantores e bandas convidadas?

E se o pastor eventualmente cometer um deslize grave, como adultério ou roubo,quem poderá admoestá-lo, ou mesmo puni-lo?

Como a igreja lida com questões políticas? É certo a liderança apontar em quem os membros devem votar? É correto levar candidatos para o púlpito e ceder-lhes a palavra? Há algum trabalho de conscientização para que as pessoas exerçam sua cidadania cabalmente, sem interferência?

Quais os critérios usados pelo pastor para ceder seu púlpito a outro pregador?

Olhe para as pessoas à sua volta, principalmente para as que chegaram antes de você e pergunte-se: Elas são hoje pessoas melhores do que eram anos atrás? As pessoas que congregam ali estão amadurecendo na fé? Lembre-se: elas podem ser você amanhã.

E quanto ao culto? Percebe-se a presença de Deus naquele lugar? Há reverência ou simplesmente oba-oba? As pessoas que freqüentam estão realmente interessadas na Palavra ou só aparecem quando há algum evento ou convidado especial?

Essas são apenas algumas questões que precisam ser consideradas. Se você tiver alguma outra questão igualmente relevante, por favor, poste em seu comentário.

O que não podemos é desistir da igreja de Cristo, seja reunida de maneira formal ou informal. Não basta criticar, urge encontrarmos saída para resgatá-la deste estado calamitoso em que chegou

Créditos: Blog do Pr. Hermes Fernandes

Evangélicos não praticantes? Sim – já existe!

Pesquisas indicam o aumento da migração religiosa entre os brasileiros, o surgimento dos evangélicos não praticantes e o crescimento dos adeptos ao islã

 
Conheça em vídeo a história de Silvio Garcia, que era pastor da igreja evangélica e hoje é pai de santo :

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Acaba de nascer no País uma nova categoria religiosa, a dos evangélicos não praticantes. São os fiéis que creem, mas não pertencem a nenhuma denominação. O surgimento dela já era aguardado, uma vez que os católicos, ainda maioria, perdem espaço a cada ano para o conglomerado formado por protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais. Sendo assim, é cada vez maior o número de brasileiros que nascem em berço evangélico – e, como muitos católicos, não praticam sua fé. Dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelaram, na semana passada, que evangélicos de origem que não mantêm vínculos com a crença saltaram, em seis anos, de insignificantes 0,7% para 2,9%. Em números absolutos, são quatro milhões de brasileiros a mais nessa condição. Essa é uma das constatações que estatísticos e pesquisadores estão produzindo recentemente, às quais ISTOÉ teve acesso, formando um novo panorama religioso no País. 

Isso só é possível porque o universo espiritual está tomado por gente que constrói a sua fé sem seguir a cartilha de uma denominação. Se outrora o padre ou o pastor produziam sentido à vida das pessoas de muitas comunidades, atualmente celebridades, empresários e esportistas, só para citar três exemplos, dividem esse espaço com essas lideranças. Assim, muitas vezes, os fiéis interpretam a sua trajetória e o mundo que os cerca de uma maneira pessoal, sem se valer da orientação religiosa. Esse fenômeno, conhecido como secularização, revelou o enfraquecimento da transmissão das tradições, implicou a proliferação de igrejas e fez nascer a migração religiosa, uma prática presente até mesmo entre os que se dizem sem religião (ateus, agnósticos e os que creem em algo, mas não participam de nenhum grupo religioso). É muito provável, portanto, que os evangélicos pesquisados pelo IBGE que se disseram desvinculados da sua instituição estejam, como muitos brasileiros, experimentando outras crenças.

É cada vez maior a circulação de um fiel por diferentes denominações – ao mesmo tempo que decresce a lealdade a uma única instituição religiosa. Em 2006, um levantamento feito pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) e organizado pela especialista em sociologia da religião Sílvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), verificou que cerca de um quarto dos 2.870 entrevistados já havia trocado de crença. Outro estudo, do ano passado, produzido pela professora Sandra Duarte de Souza, de ciências sociais e religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), para seu trabalho de pós-doutorado na Universidade de Campinas (Unicamp), revelou que 53% das pessoas (o universo pesquisado foi de 433 evangélicos) já haviam participado de outros grupos religiosos.

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ALÁ
Nogueira, muçulmano há um ano: no Rio, os convertidos
saltaram de 15% da comunidade para 85% em 12 anos

“Os indivíduos estão numa fase de experimentação do religioso, seja ele institucionalizado ou não, e, nesse sentido, o desafio das igrejas estabelecidas é maior porque a pessoa pode escolher uma religião hoje e outra amanhã”, afirma Sílvia, da UFRRJ. “Os vínculos são mais frouxos, o que exige das instituições maior oferta de sentido para o fiel aderir a elas e permanecer. É tempo de mobilidade religiosa e pouca permanência.” Transitar por diferentes crenças é algo que já ocorre há algum tempo. A intensificação dessa prática, porém, tem produzido novos retratos. Denominadores comuns do mapa da circulação da fé pregam que católicos se tornam evangélicos ou espíritas, assim como pentecostais e neopentecostais recebem fiéis de religiões afro-brasileiras e do protestantismo histórico. Estudos recentes revelam também que o caminho contrário a essas peregrinações já é uma realidade. 

Em sua dissertação de mestrado sobre as motivações de gênero para o trânsito de pentecostais para igrejas metodistas, defendida na Umesp, a psicóloga Patrícia Cristina da Silva Souza Alves verificou, depois de entrevistar 193 protestantes históricos, que 16,5% eram oriundos de igrejas pentecostais. Essa proporção era de 0,6% (27 vezes menor) em 1998, como consta no artigo “Trânsito religioso no Brasil”, produzido pelos pesquisadores Paula Montero e Ronaldo de Almeida, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Para Patrícia, o momento econômico do Brasil, que registra baixos índices de desemprego e ascensão socioeconômica da população, reduz a necessidade da bênção material, um dos principais chamarizes de uma parcela do pentecostalismo. “Por outro lado, desperta o olhar para valores inerentes ao cristianismo, como a ética e a moral cristã, bastante difundidas entre os protestantes históricos”, afirma.

Em busca desses valores, o serralheiro paraibano Marcos Aurélio Barbosa, 37 anos, passou a frequentar a Igreja Metodista há um ano e meio. Segundo ele, nela o culto é ofertado a Deus e não aos fiéis, como acontecia na pentecostal Assembleia de Deus, a instituição da qual Barbosa foi devoto por 16 anos, sendo sete como presbítero. O serralheiro cumpria à risca os rígidos usos e costumes impostos pela denominação. “Eu não vestia bermuda nem dormia sem camisa, não tinha tevê em casa, não bebia vinho, não ia ao cinema nem à praia porque era pecado”, conta. Com o tempo, o paraibano passou a questionar essas proibições e acabou migrando. “Na Metodista encontrei um Deus que perdoa, não um justiceiro.”

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AMÉM
É cada vez mais comum ex-pentecostais, como o atual metodista Barbosa,
que foi pastor da Assembleia de Deus (acima), aderirem às protestantes históricas

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A teóloga Lídia Maria de Lima irá defender até o final do ano uma dissertação de mestrado sobre o trânsito de evangélicos para religiões afro-brasileiras. A pesquisadora já entrevistou 60 umbandistas e candomblecistas e verificou que 35% deles eram evangélicos antes de entrar para os cultos afros. Preterir as denominações cristãs por religiões de origem africana é outro tipo de migração até então pouco comum. Não é, porém, uma movimentação tão traumática, uma vez que o currículo religioso dos ex-evangélicos convertidos à umbanda ou ao candomblé revela, quase sempre, passagens por grupos de matriz africana em algum momento de suas vidas. Pai de santo há dois anos, o contador Silvio Garcia, 52 anos, tem a ficha religiosa marcada por cinco denominações distintas – e a umbanda é uma delas. Foi aos 14 anos, frequentando reuniões na casa de uma vizinha, que Garcia, batizado na Igreja Católica, aprendeu as magias da umbanda. Nessa época, também era assíduo frequentador de centros espíritas. Aos 30, ele passou a cursar uma faculdade de teologia cristã e, com o diploma a tiracolo, tornou-se presbítero de uma igreja protestante. Um ano depois, migrou para uma pentecostal, onde pastoreou fiéis por seis anos. “Mas essas igrejas comercializam a figura de Cristo e eu não me sentia feliz com a minha fé”, diz. 

A teóloga Lídia sugere que os sistemas simbólicos das religiões evangélica e afro-brasileira têm favorecido a circulação de fiéis da primeira para a segunda. “Há uma singularidade de ritos, como o fenômeno do transe. Um dos entrevistados me disse que muito do que presenciava na Igreja Universal (do Reino de Deus) ele encontrou na umbanda”, diz. Em suas pesquisas, fiéis do sexo feminino foram as que mais cometeram infidelidade religiosa (67%). Os motivos que levam homens e mulheres a migrar de religião (leia quadro à pág. 60) foram investigados pela professora Sandra, da Umesp. Em outubro, suas conclusões serão publicadas em “Filosofia do Gênero em Face da Teologia: Espelho do Passado e do Presente em Perspectiva do Amanhã” (Editora Champanhat).

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SALVAÇÃO
Homens pensam em si quando buscam uma nova crença:
Higuti, pastor da Bola de Neve, queria se livrar das drogas

Uma diferença básica entre os sexos é que as mulheres mudam de religião em busca de graça para quem está a sua volta (a cura para filhos e maridos doentes ou a recuperação do casamento, por exemplo). Já os homens são motivados por problemas de fundo individual. Assim ocorreu com o empresário paulista Roberto Higuti, 45 anos, que se tornou evangélico para afastar o consumo e o tráfico de drogas de sua vida. Católico na infância, budista e adepto da Igreja Messiânica e da Seicho-No-Ie na adolescência, Higuti saiu de casa aos 15 anos e se tornou um fiel seguidor do mundo do crime. Sua relação com as drogas foi pontuada por internação em hospital psiquiátrico, prisão e duas tentativas de suicídio. Certo dia, cansado da falta de perspectivas, viu uma marca de cruz na parede, ajoelhou-se e disse: “Jesus, se tu existes mesmo, me tira dessa vida maldita.” Há cinco anos, o empresário é pastor da neopentecostal Igreja Bola de Neve, onde ministra dois cultos por semana. “Quero, agora, ganhar almas para o Senhor”, diz. 

Antes de se fixar na Bola de Neve, Higuti experimentou outras quatro denominações evangélicas. Mobilidades intraevangélicas como as dele ocorrem com aproximadamente 40% dos adeptos de igrejas pentecostais e neopentecostais, segundo a especialista em sociologia da religião Sílvia, da UFRRJ. Os neopentecostais, porém, possuem uma particularidade. Seus fiéis trocam de igreja como quem descarta uma roupa velha: porque ela não serve mais. São a homogeneização da oferta religiosa e a maior visibilidade de algumas denominações que produzem esse efeito. “Esse grupo, antigamente, era o tal receptor universal de fiéis, para onde iam todas as religiões. Hoje, a singularidade dele é o fato de receber membros de outras neopentecostais”, diz Sandra, da Umesp. “Quanto mais acirrada a concorrência, maior a migração.” A exposição na mídia, fundamentalmente na tevê, é a principal estratégia dos neopentecostais para roubar adeptos da concorrente direta. E cada vez mais as pessoas estabelecem uma relação utilitária com a religião. De acordo com a pesquisadora Sandra, se não há o retorno (material, na maioria das vezes), o fiel procura outra prestadora de serviço religioso. Estima-se, por exemplo, que 70% dos atuais adeptos da Igreja Mundial – uma dissidente da Universal – tenham migrado para lá vindos da denominação de Edir Macedo. “Entre os neopentecostais não se busca mais um líder religioso, mas um mago que resolva tudo num estalar de dedos”, diz Sandra. “Essa magia faz sucesso, mas tem vida curta, uma vez que o fiel se afasta, caso não encontre logo o que quer.”

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SEM LAÇOS
Lucina não segue nenhum credo, mas quando quer alcançar uma graça
procura algum serviço religioso: 30% fazem o mesmo anualmente

Cansada de pular de uma crença para outra, a artesã paulista Lucina Alves, 57 anos, não sente mais necessidade de pertencer a uma igreja. Há oito anos, ela diz ser do grupo dos sem-religião. No entanto, recorre a ritos de fé, principalmente católicos, espíritas e da Seicho-No-Ie, sempre que sente vontade de zelar pelo bem-estar de alguém. “Há um mês, fui até uma benzedeira ligada ao espiritismo para ajudar meu filho que passava por problemas conjugais”, diz. Dados do artigo “Trânsito religioso no Brasil” revelaram que 30,7% das pessoas que se encontram na categoria dos sem-religião frequentam algum serviço religioso anualmente e 20,3% fazem o mesmo mais de uma vez por mês. “Já participei de reuniões evangélicas de orações em casa de familiares”, conta Lucina. 

A artesã não cultua santos, crê em Deus, Jesus Cristo e acende vela para anjos. No campo das ciências da religião, manifestações espirituais como as dela são recentes e vêm sendo tema de novos estudos. A migração de brasileiros para o islã é outro fenômeno que cresce no País. O número de convertidos na comunidade muçulmana do Rio de Janeiro, por exemplo, saltou de 15% em 1997 para 85% em 2009. Ex-umbandista que hoje atende por Ahmad Abdul-Haqq, o policial militar paulista Mario Alves da Silva Filho tem um inventário religioso de dar inveja. Batizado no catolicismo, aos 9 anos estreou na umbanda em uma gira de caboclo e baianos. Um ano depois, juntando moedas que ganhava dos pais, comprou seu primeiro livro, sobre bruxaria. Aos 14, passou a frequentar a Federação Espírita paulista, onde fez cursos para trabalhar com incorporações e psicografia. Aos 17 anos, trabalhou em ordens esotéricas ao mesmo tempo que dava expediente na umbanda. O policial, mestrando em sociologia da religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), decidiu se converter ao islã quando fazia um retiro de padres jesuítas. Em uma noite, sonhou com um árabe que o indicava o islã como resposta para suas dúvidas. Aos 29 anos, ele entrou em uma mesquita e disse que queria ser muçulmano. Saiu dela batizado e, desde então, faz cinco orações e repete frases do “Alcorão” diariamente. “Descobri que sou uma criatura de Deus e voltarei ao seio do Criador.”

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MECA
Migração atípica: o policial Filho, de currículo
religioso extenso, trocou  a umbanda pelo islã

Faz dez anos que o número de convertidos ao islã no País aumentou. E não são os atentados às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, que marcam esse novo fluxo, mas a novela “O Clone”, da Globo. Foi ela que “introduziu no imaginário cultural brasileiro imagens bastante positivas dos muçulmanos como pessoas alegres e devotadas à família”, como defende Paulo Hilu da Rocha Pinto em “Islã: Religião e Civilização – Uma Abordagem Antropológica” (Editora Santuário), de 2010. “De lá para cá, a conversão de brasileiros cresceu 25%. Em Salvador, 70% da comunidade é de convertidos”, diz a antropóloga Francirosy Ferreira, pesquisadora de comunidades muçulmanas da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto.

Assistente financeiro, o paulista Luan Nogueira, 23 anos, tornou-se muçulmano há um ano. Por indicação de um amigo, passou a pesquisar o islã e descobriu que o discurso estigmatizado criado após o 11 de setembro, que relacionava a religião à intolerância e à violência, não era verdadeiro. “Encontrei na mesquita e no “Alcorão” a ética da boa conduta”, diz. “Me sinto mais próximo de Deus no islã.” Para o professor Frank Usarski, do Centro de Estudo de Religiões Alternativas de Origem Oriental, da PUC-SP, o atrativo do islã é o fato de não ter perdido, diferentemente de outras religiões, a competência da interpretação completa da vida. “Ele oferece um guarda-chuva de referências para esferas como economia e ciência”, diz Usarski.

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ORIXÁS
Ex-liderança evangélica, Garcia largou os cultos cristãos (abaixo) para se tornar pai de santo

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Segundo o escritor Pinto, que também é professor de antropologia da religião na Universidade Federal Fluminense, o islã permite aos adeptos uma inserção e compreensão sobre questões atuais, como, por exemplo, a Palestina, a Guerra do Iraque e segurança internacional, para as quais outros sistemas religiosos talvez não deem respostas. “Se a adoção do cristianismo em contextos não europeus do século XIX pôde ser definida com uma conversão à modernidade, a entrada de brasileiros no islã pode ser vista como uma conversão à globalização”, escreve ele, em seu livro.

É cada vez mais comum, no País, fiéis rezando com a cartilha da autonomia religiosa. Esse chega para lá na fé institucionalizada tem conferido características mutantes na relação do brasileiro com o sagrado, defende a professora Sandra, de ciências sociais e religião da Umesp. “Deus é constituído de multiplicidade simbólica, é híbrido, pouco ortodoxo, redesenhado a lápis, cujos contornos podem ser apagados e refeitos de acordo com a novidade da próxima experiência.” Agora é o fiel quem quer empunhar a escrita de sua própria fé.

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