30 de abril de 2010

Santo Agostinho

(354-430)

Um dos mais importante dos pais da Igreja

Com uma mente brilhante e coração incansável, Agostinho dedicou-se à filosofia e ao prazer, até que as orações de sua mãe, um conselho de bispos e uma voz infantil o atraíram à fé cristã. Então, ele se tornou um poderoso líder religioso num tempo crucial, moldando a igreja pelos séculos que se seguiram.

Agostinho foi bispo de Hippo Regius, uma cidade na costa norte da África, na província romana de Numídia. Seu impacto ainda é sentido tanto nas igrejas como na cultura ocidental.

EDUCAÇÃO
Conhece-se mais de Agostinho do que de qualquer outra figura da igreja primitiva por causa de suas Confissões (397-401) e Retratações (426-427). Nasceu numa pequena cidade da Numídia, filho de pai pagão, Patrício, e mãe cristã, Mônica. Com grande sacrifício pessoal, os pais procuraram para o filho bem-dotado a melhor educação romana como forma de projetá-lo daquela pequena cidade africana. Agostinho estudou primeiro em Madaura e depois recebeu treinamento de retórica em Cartago (375) o que o preparou para "escrever com estilo". Em Cartago, abandonou a fé de sua mãe e seguiu as práticas imorais de seus colegas estudantes. Em 372, juntou-se a uma amante com quem viveu por 13 anos e com quem teve um filho, Adeodato (que morreu por volta de 390).

VIDA E OBRAS
Com o abandono da fé cristã, Agostinho dedicou-se a um questionamento religioso da sabedoria através da filosofia. Esse questionamento o levou ao encontro de vários filósofos, em Roma e outras cidades, foco dos luminares da época, de quem ouvia e aprendia e com quem debatia sobre o Bem e o Mal, o Pecado, virtudes purificadoras, auto-purificação, nenhum deles , no entanto, lhe apresentava a verdade de Cristo. Em meio a uma grande crise moral e emocional, Agostinho foi tocado pela leitura de Romanos 13:14 que lhe mostrou claramente Cristo como a autoridade moral capaz de lhe dar uma "nova vontade". Numa repentina conversão moral, abandonou sua posição de professor e desistiu do desejo de se casar com uma mulher rica (havia se separado da amante). Retirou-se com alguns amigos íntimos, parentes e sua mãe para a casa de campo de um amigo para dedicar-se à verdade.
Confidenciando que uma alma purificada poderia chegar à verdade clara, Agostinho comprometeu o grupo com o diálogo socrático, um método no qual o professor dirige perguntas a pessoas num grupo e as lidera na discussão, ainda que não se chegue a conclusões. Os diálogos, anotados por um escriba e posteriormente suplementados por Agostinho, foram a base de três de suas obras.

SUMÁRIO
Durante os últimos meses da vida de Agostinho, os vândalos sitiaram a protegida cidade de Hippo por terra e mar. Eles haviam destruído a parte romana do norte da África e a evidência externa da Cristandade latina. Hippo estava cheia de refugiados, incluindo bispos e padres. Agostinho pregou para uma congregação cheia de refugiados e teve os vasos de ouro da igreja fundidos para dar ajuda ao muitos que vieram.Suas cartas informam que a África estava madura para o julgamento de Deus nas mãos dos bárbaros. Naquela crise final, Agostinho contraiu uma doença fatal. Com os salmos de penitência pendurados nas paredes de seu quarto, aquele bispo de 75 anos, que tinha cultivado tantas amizades, pediu que o deixassem sozinho para se preparar para morrer.

A medida da importância de Agostinho vai além do raro título, "Doutor da Igreja", que lhe foi dado na Idade Média. Foi o primeiro a fazer um auto-exame diante de Deus na forma de suas Confissões e assim dar à igreja entendimento bíblico sobre a vida de um homem sob a graça de Deus. Foi o primeiro a dar uma visão bíblica da história, do tempo e do estado no seu livro Cidade de Deus. Estabeleceu a doutrina da igreja nos seus escritos anti-Donatistas, uma visão que prevaleceu na igreja durante séculos. Deu à igreja ocidental uma confirmação clara sobre a pessoa de Cristo, que mais tarde foi estabelecida como doutrina por Leo. Instituiu como tema da teologia no Ocidente a graça de Deus no evangelho.

Salvação

O tema central do evangelho de Cristo é a Salvação. A salvação é uma figura de linguagem de ampla aplicação que expressa a idéia de resgate da perdição e da miséria para um estado da segurança. O evangellho proclama que o mesmo Deus, que salvou Israel de Egito, Jonas da barriga do peixe, o salmista da morte, e os soldados de naufragar (Exodos 15:2; Jonas 2:9; Salmos 116:6; Atos 27:31), é o Deus que salva do pecado e das consequências do pecado para todo aquele que confiar em Cristo. Assim como estes livramentos foram feitos exclusivamente por Deus, e não são exemplos de pessoas salvando-se a si mesmas com a ajuda de Deus, assim é a salvação do pecado e da morte. “Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus.” (Efésios 2:8). “A salvação vem de Deus, o SENHOR!” (Jonas 2:9).

Do que os crentes são salvos? São salvos da ira de Deus, do domínio do pecado, e do poder da morte (Romanos 1:18; 3:9; 5:21); de sua condição natural de ser dominado pelo mundo, pela carne, e pelo diabo (João 8:23-24; Romanos. 8:7-8; 1 João 5:19); dos medos que uma vida pecadora gera (Romanos 8:15; 2 Timóteo 1:7; Hebreus 2:14-15), e de muitos hábitos e vícios que fazem parte da vida (Efésios 4:17-24; 1 Ts. 4:3-8; Tito 2:11 –3:6).

Como os crentes são salvos destas coisas? Através de Cristo, e em Cristo. O Pai é tão interessado em exaltar o Filho como Ele é em resgatar o perdido (João 5:19-23; Filipenses. 2:9-11; Colossenses 1:15-18; Hebreus 1:4-14). É fato dizer que os eleitos foram escolhidos para Cristo, o Filho Amado, assim como Cristo foi escolhido para os eleitos amados (Mateus 3:17; 17:5; Colossenses 1:13; 3:12; 1 Pedro 1:20; 1 João 4:9-10).

Nossa salvação envolve primeiro, a morte de Cristo por nós, segundo, Cristo vivendo em nós (João 15:4; 17:26; Colossenses 1:27) e nós vivendo em Cristo, unidos com Ele em Sua morte e ressureição (Romanos 6:3-10; Colossenses 2:12, 20; 3:1). Esta união vital, que é sustentada pelo Espírito, do lado divino, e pela fé, do nosso lado, é formada através do nosso novo nascimento, e pressupõe uma aliança no sentido de nossa eleição eterna em Cristo (Efésios 1:4-6). Jesus foi designado antes da fundação do mundo para ser nosso representando carregando os nossos pecados sobre seus ombros (1 Pedro 1:18-20; cf. Mateus 1:21), e nós fomos escolhidos para ser efetivamente chamados, conforme a Sua imagem, e glorificado pelo poder do Espírito (Romanos 8:11, 29-30).

Os crentes são salvos do pecado e da morte, mas para que ele são salvos? Para viver eternamente o amor de Deus — Pai, Filho, e Espírito. A fonte de amor para com Deus vem da redenção do amor de Deus por nós, e a evidência deste amor para com Deus é amor ao próximo (1 João 4:19-21). A finalidade de Deus, agora e daqui por diante, é continuar expressando seu amor em Cristo conosco, e nosso objetivo deve ser continuar expressando nosso amor às três Pessoas de Deus, adorando-O e servindo-o em Cristo. Uma vida de amor e de adoração é a nossa esperança da glória, nossa salvação presente, e nossa felicidade para sempre. Este artigo foi extraído do Concise Theology: A Guide to Historic Christian Beliefs by J. I. Packer.

29 de abril de 2010

Fé salvívica

Vamos enumerar o que denominamos de oito elos de uma mesma corrente, sendo que esta corrente representa a Salvação. Há quem chame de estágios ou outros termos correlatos.
Embora alguns enumerem, até em ordem crescente, nós preferimos acreditar na importância e necessidade de todos, e de cada um, não os colocando em qualquer ordem, até porque eles podem ocorrer de forma simultânea.
Estes oitos elos são – Fé, Arrependimento, Conversão, Regeneração, Adoção, Justificação, Santificação e Glorificação.
Embora muitos comentaristas digam ser a conversão o primeiro elo desta corrente, nós preferimos pensar que nada acontece antes da fé. Até porque a Palavra de Deus diz que:
"Ora, sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam" - (Hebreus 11:6).
"E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregaram a palavra do Senhor e a todos os que estavam em sua casa" - (Atos 16:30-32).
Face a pergunta feita por um grande pecador, a resposta de Paulo foi simples, direta e objetiva –"Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo".
Crer é a condição primeira
Porém, para crer precisa-se de fé. Então, sem fé não haverá salvação –
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus" - (Efésios 2:8).
A fé, portanto, é condição indispensável para se alcançar a salvação. Mas, a fé não é gerada de forma espontânea no coração do homem. Assim, por si só, nenhum homem tem condições de alcançar, por seus méritos, a salvação.
A salvação começa e termina em Deus
A Bíblia diz que Jesus é "... autor e consumador da fé..." - (Hebreus 12:2).
Paulo disse ao carcereiro que para ser salvo, ele precisava crer.
Na sequência diz – "E lhe pregaram a palavra do Senhor...".
Com efeito, está escrito que – "De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" - (Romanos 10:17).
Para adquirir a fé ele precisa ouvir a Palavra de Deus.
Salvação pela graça, por meio da Fé
A salvação foi apresentada inteira, completa, perfeita. Ao homem só resta aceitá-la, gratuitamente. Assim, por ser tão grande e tão preciosa o homem vacila em tomar posse dela. O que se exige do homem é o estender a mão para tomar posse da bênção. O estender a mão nos dá o significado da Fé. Sem a Fé o homem não consegue crer, mas, aquele que, pela fé, crê, e estende a mão toma posse desta tão gloriosa Salvação.
Assim, diz Paulo – "Pela graça sois salvos, por meio da fé".
A graça representa a provisão de Deus; a Fé representa o meio pelo qual o homem recebe a salvação.
Portanto, a fé não é o principio e nem o fim. É apenas o meio. Não é a fé que salva, o que salva é a graça. A salvação começa e termina em Deus. Ele é o autor de nossa salvação. O homem não é salvo pela fé, mas pela graça, por meio da fé.
O próprio Deus disponibiliza a fé para que o homem possa crer
O trabalho do homem, do pregador, é pregar a Palavra de Deus. Existe a necessidade de pregar a Palavra de Deus. O Senhor tem compromissos com sua Palavra, e não com as palavras do homem. Portanto, não pode haver culto sem que haja a ministração da Palavra.
O Espírito Santo opera através da Palavra de Deus. Assim, quando o homem de Deus está pregando, o Espírito Santo trabalha nos corações dos ouvintes no sentido de convencê-los do "pecado, da justiça e do juízo".
É assim que acontece – o homem de Deus prega a Palavra de Deus e o Espírito Santo trabalha nos corações dos ouvintes. De repente aquele homem que, no seu entender, não tinha nenhum pecado, começa a sentir-se acusado, sente que, na verdade, é um pecador, vê próximo de si o juízo de Deus e não quer defrontar-se com sua justiça.
Naquele momento a fé salvífica está disponibilizada e ele pode crer, se quiser.
Aconteceu na casa de Cornélio. Todos os que estavam ouvindo a Palavra, reconheceram-se culpados, creram e foram salvos –
"E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios" - (Atos 10:44-45).
Homem, Palavra, Espírito, Fé – Salvação
"... eis que o semeador saiu a semear..." - (Mateus 13:3).
O homem semeia a Palavra, o Espírito Santo aplica essa Palavra ao coração do homem, disponibilizando-lhe a fé salvifica, enquanto o convence – "...do pecado, da justiça e do juízo"( João 16:8).
Assim, pode acontecer com aquele que aceitou um convite para ir ao culto, e foi!
Porém, quando entrou no templo pensava não ter nenhum pecado. Mas, ao ouvir a Palavra descobriu que era, na verdade, um grande pecador, sentiu sua miséria e a necessidade de um Salvador que o livrasse da condenação eterna. Aceita Jesus e, ao sair, daquele culto, é um homem salvo!
A fé é como que o botão que aciona o processo que leva à salvação. Por isto preferimos colocar a fé antes da conversão. Assim, pela fé o homem pode crer. Crendo, pode convencer-se de seus pecados e arrepender-se; arrependendo-se, pode converter-se.
Embora com a ajuda de Deus, estes passos – fé, arrependimento e conversão têm que ser dados pelo pecador. Eles representam a parte que compete ao homem no processo de salvação.

Uma palavra aos jovens - "FICAR", NAMORO E NOIVADO -

Suas fases preliminares
Entre nós, hoje, no Brasil, como regra geral prevalece o princípio da livre escolha dos nubentes. Sabe-se que ainda existem "casamentos arranjados" os quais acontecem por múltiplos interesses, ou entre alguns grupos evangélicos por falta de conhecimento da Palavra de Deus.
Sabemos que o que vamos escrever sobre as fases preliminares, bem como sobre o casamento, será considerado, por muitos, como conceitos ultrapassados sob alegação de que hoje as coisas estão mudadas.
Contudo, não nos move a intenção de escrever sobre "as coisas que estão mudadas" para ser tido como um homem atualizado, moderno, caso estas coisas tenham mudado no sentido de tomar formas diferentes daquelas consagradas pela Bíblia, a Palavra de Deus.
Não nos preocupa o fato de sermos criticados por aqueles que não conhecem as doutrinas bíblicas, ou por aqueles que embora pensando conhecê-las, não procuram viver de acordo com elas.
Veremos que o casamento, segundo o propósito de Deus, deve ser um ato responsável, contudo, o mundo sob a orientação de Satanás procurou e continua procurando banalizá-lo.
Assim, os que não têm compromissos com a Bíblia, a Palavra de Deus, e que vivem segundo – "...o mundo, que está no maligno" ( I João 5:19), casam sem antes avaliar a seriedade do ato que estão realizando. Não sabem que o casamento é a segunda decisão mais importante na vida de uma pessoa. Ele pode ser responsável pela eternidade, no inferno.
Não é sem razão que o número de divórcios, hoje, supera o de casamentos realizados.
Um casamento não pode ser um "mergulho no escuro", no desconhecido. Esta tragédia pode ser evitada, em grande parte, nas fases que antecedem o casamento, como o namoro e o noivado, caso voltem a cumprir o papel que cada um deles desempenhava no passado.
Namoro e noivado – fases que antecedem o casamento
Na rota do casamento, em tempos idos, eram duas as fases pré-matrimonial – o namoro e o noivado. Todavia, nos tempos hodiernos, a juventude criou uma nova fase – o "ficar". Procuramos entender o significado de "ficar". Mas, quase todos os jovens dizem que "ficar é ficar".
Contudo, insistimos em descobrir o significado de "ficar". Ao que nos pareceu, "ficar" é manter um relacionamento sem qualquer compromisso de estabilidade e de exclusividade.
No "ficar" não se pode exigir fidelidade amorosa. Tudo o que existe entre o casal de jovens se resume naquele momento que "ficam juntos". Terminado esse momento, cada um segue o seu caminho como se nada tivesse havido, até um novo "ficar".
O "ficar" é o poder estar juntos, relacionando-se fisicamente, sem qualquer compromisso de exclusividade, de fidelidade, de estabilidade.
Hoje, o "ficar" não é novidade para ninguém. A maioria dos adolescentes tem seu primeiro beijo na condição de "ficante". Há, contudo, casos de relacionamento sexual já no primeiro "ficar". Segundo se afirma, num grupo de amigos é comum a disputa para ver quem consegue ficar com uma número maior de parceiros.
Nesta época do pós-modernismo foi consagrado no "mundo" o princípio da permissividade, pelo qual se entende que tudo pode ser permitido, tolerado, que acredita numa convivência pacifica entre o moral e o imoral.
Que cada um deve viver como quer, como pensa, e, mesmo viver sem pensar. Um mundo sem normas, onde a liberdade tem que ser absoluta, onde seja proibido proibir.
Nesta época, ao que parece, Satanás inventou um "brinquedinho" agradável e perigoso para jovens e adolescentes. Ele funciona como uma brincadeira de "pega-pega", ou seja, pega-se um hoje, outro amanhã. É como se o amor fosse algo descartável.
Namorar é coisa fora de moda! "Ficar" tornou-se mais atraente para os jovens. Eles imaginam poder "curtir" apenas o lado bom do namoro, pois não há nada de responsabilidades, cobranças, obrigações.
Acreditamos que entre os jovens cristãos não se deve proibir um relacionamento com base na amizade e no amor cristão, mesmo sem qualquer compromisso sentimental.
É claro que não nos moldes da permissividade do "ficar", onde não existem limites para a concupiscência carnal. É melhor, pois, que nossos filhos se relacionem entre si, visto que – "...as más conversações corrompem os bons costumes".
Namoro
Segundo o conceito moderno o namoro é o segundo estágio. Após um período de convivência no "ficar", o jovem casal pode resolver dar exclusividade um ao outro, passando a um relacionamento estável, não mais ocasional e com a exigência de fidelidade sentimental. O "ficar" teria sido, portanto, um estágio experimental.
Do ponto de vista semântico, namorar vem da mesma raiz da palavra amar. Namorar significa empenhar-se em inspirar amor a alguém; esforçar-se para conseguir o amor.
O namoro era uma fase para consolidar a conquista, onde, sem intimidade física, o jovem procurava "gastar o verbo", derramando-se em romantismo. Era um período para se lançar as primeiras pedras que iriam formar o alicerce de uma sólida construção. Construção que começa com erros de base não pode terminar certa. O namoro era a primeira fase da formação de uma nova Família.
É claro que, lá fora, no mundo, tudo mudou; alguns reflexos dessas mudanças alcançaram, também, o "arraial dos santos". Vamos, contudo, pensar que nós, na igreja, continuamos, não vivendo num sistema considerado antiquado, mas num sistema que prima pela santificação, conforme o modelo estabelecido pela Bíblia Sagrada, e que o namoro entre os nossos jovens seja, ainda, um compromisso sério que tem como objetivo final o casamento.
Que o namoro continue sendo uma fase bonita de convivência entre jovens, ainda com mais palavras de romantismo e menos contato físico, com mais amor e menos interesse, com mais contemplação e menos ação – sem radicalismos, contudo!
Convém, no entanto, lembrar o que, na sua sabedoria, inspirado pelo Espírito Santo de Deus, escreveu Salomão -
" Há três coisas que me maravilham, e a quarta não a conheço: o caminho da águia no céu, o caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar e o caminho do homem com uma virgem" (Provérbios 30:18-19 ).
Segundo a "Wikipédia, a Enciclopédia Livre"
"O namoro pode ser definido como uma instituição não moderna, que tem como função a experimentação sentimental entre duas pessoas através da troca de conhecimento e uma vivência com um grau de comportamento inferior a do noivado".
A grande maioria utiliza o namoro como pré-requisito para o estabelecimento de um noivado ou casamento.
Assim, diríamos que a palavra "namoro" leva dentro de si a palavra "amor". Portanto, o seu sentido mais real, namorar é "inspirar amor".
O namoro não deve ser usado como simples passatempo, mas como início da procura de uma companheira ou companheiro. Vale a pena lembrar que um jovem ou uma jovem cristã deve pedir a orientação e confirmação de Deus para o namoro, pois, o que começa bem, ou seja, de acordo com a Bíblia, tem tudo para terminar bem, ou para alcançar seus objetivos.
A idade para começar um namoro
É certo que sob o ponto de vista fisiológico assim que uma criança vai chegando à adolescência, ela começa a ser impulsionada pelos "desejos da mocidade", e mesmo influenciado pelos seus colegas.
Porém, um jovem cristão precisa e pode controlar seus impulsos e desejos. Para a existência de um namoro responsável exige-se maturidade, ou seja, uma personalidade formada-
"Passou o inverno, cessou a chuva..." (Cantare2:11)
Esta figura da estação do ano, significa que terminou o "inverno", no qual não era ainda o tempo de começar um "namoro", conforme registra o versículo 7 –
"...não acordeis nem desperteis o meu amor, até que queira".
E pensar que hoje muitas crianças, para não falar dos adolescentes, namoram até com o e incentivo dos próprios pais. Isto, é claro, por falta de conhecimento da vontade de Deus, exposta em sua Palavra, a qual diz que –
" Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu:" (Eclesiastes 3:1 )
Namoro não pode ser usado como brinquedo de criança. É preciso, segundo a Bíblia, esperar a chegada da "primavera", quando então será possível aceitar o convite que foi feito à Sunamita –
" A figueira já deu os seus figuinhos, e as vides em flor exalam o seu aroma. Levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem." (Cantares 2:13 )
Então é possível poder dizer, com maturidade – "O meu amado é meu e eu sou dele...".
Ela recordou as palavras de amor que ele lhe dirigiu ao começar o namoro – "formosa minha"; "pomba minha"; "faz-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face aprazível".
Na pureza do romantismo seria a forma com que Deus gostaria que um relacionamento entre um casal de jovens tivesse o seu começo. Na história de amor deixada na Bíblia, através do Livro de Cantares, como exemplo para a formação de uma nova família houve a presença da beleza do amor e da pureza do romantismo.
Hoje, lamentavelmente, muitos começam por onde, segundo a Palavra de Deus, deveria ser o fim.
O noivado
Etmologicamente, ou seja, no sentido da origem da palavra, bem como no linguajar clássico, o termo "esposo" tem o sentido de "noivo", "nubente", o "prometido", "o que vai casar".
Apenas modernamente é que se passou a usar o termo esposo como sinônimo de marido. O noivado pode ser considerado como sendo a metade do caminho percorrido entre o namoro e o casamento.
O noivado deve ser a fase pré-nupcial. Representa um compromisso de casamento. É a ante-sala do enlace matrimonial. Deve equivaler-se ao "desposar", usado nos termos bíblicos, tais como –
"...Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem achou-se ter concebido do Espírito Santo" ( Mateus 1:18).
O "desposar", contudo, pela Lei de Moisés, tinha bases muito mais seguras em relação ao noivado, conhecido entre nós.
É claro que, aqui, estamos tratando do assunto sob o ponto de vista bíblico. Sabemos que, lá fora, no mundo, o noivado tem, muitas vezes, o sentido de liberdade e permissividade, conferindo aos noivos alguns direitos e privilégios que a Palavra de Deus reserva e só confere aos casados.
Não queremos, e não devemos ser radicais e antiquados, porém, pela Bíblia, o casal se torna "uma só carne", pelo casamento. Não é , pois, uma questão de ponto de vista, ou de ser moderno, ou antigo, o aceitar como normal o relacionamento sexual antes do casamento. É uma questão de obediência à Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada.
O verdadeiro objetivo do noivado é o de ser uma fase preparatória para o casamento.
A conquista do amor um do outro consolidou-se na fase do namoro. O casal concluiu que deveria prosseguir rumo ao casamento e, com o noivado, assumiu publicamente, um compromisso, envolvendo, também, suas famílias e sua igreja.
O noivado, no nosso entendimento, é um compromisso de casamento. Um compromisso assumido por duas pessoas responsáveis não pode ser desfeito sem justa causa.
Todavia, em havendo justa causa capaz de comprometer a felicidade e a estabilidade do casamento – então, o noivado, não apenas pode, como deve ser rompido. O casamento não pode ser edificado sobre base movediça!
Perceba a expressão – havendo justa causa. Neste caso, de acordo com nossa legislação, até o casamento pode ser desfeito.
É preciso, no entanto, observar
Um noivado é um compromisso sério. Para ser desfeito é preciso observar como ele foi feito. Caso o noivado tenha sido feito de forma familiar, ou seja, as famílias, ou mesmo só a família da noiva, na hipótese de que o noivo falou com os pais da noiva, ele assumiu um compromisso social com a família.
Neste caso quem rompe o noivado tem um compromisso moral de comunicar a ou as famílias envolvidas o motivo do rompimento.
Há casos em que o noivado é feito na igreja, com a participação da mesma. Desta forma a igreja que participou da cerimônia de noivado, precisa ser comunicada sobre as razões do rompimento.
Agora, no mundo moderno, embora acreditando que isto não aconteça na igreja, visto que pela Bíblia os filhos tem o dever de "honrar os pais", um noivado feito à revelia das famílias, combinado apenas entre o casal, sem que o pais sejam ao menos comunicado, é uma desonra, uma ingratidão, uma falta de respeito.
Noivado feito sem o conhecimento ou participação das famílias e da igreja, não precisa ser explicado a ninguém.
Noivado – um ato responsável
O noivado envolve quatro tipos de compromissos: social, moral, material e espiritual
1- O noivado é um compromisso social
Quem assume o noivado compromete-se com muitas pessoas, e não somente com o futuro cônjuge.
2- O noivado é um compromisso moral
Ele envolve responsabilidade, por isso não é coisa de criança, e deve ser medido pela consciência de que Deus vê todos os atos.
3- O noivado é um compromisso material
Então não existe isso de dizer "nós nos amamos, e com ele eu possa morar até debaixo do viaduto...".
4- O noivado é um compromisso espiritual
Se não há um ideal marcado pelas coisas da espiritualidade, vai ficar muito difícil, porque casamento não é apenas uma linha horizontal, é vertical também.
E aí se observa que quando se traça a linha horizontal do relacionamento do casal e a vertical com Deus, forma-se uma cruz. O casamento do cristão precisa também ser colocado na cruz de Jesus Cristo.
O significado do noivado
O significado do noivado não mudou muito com o tempo. Significa a maturidade de um relacionamento e que os dois estão prontos para formar uma família. No entanto, muitas pessoas se casam sem passar pelo noivado, ou porque já moram juntos há algum tempo ou mesmo por uma opção de ir direto do namoro ao casamento.
É bom lembrar que o noivado oferece um período de tempo muito importante durante o qual os nubentes poderão conhecer melhor os hábitos e temperamento um do outro, compartilhar os sonhos, planejar o futuro, além de ser uma fase de preparação para um compromisso maior que é o casamento.
Não existe um tempo ideal para ficar noivo. Alguns casais namoram pouco tempo e ficam noivos e já se casam logo em seguida. Cabe a cada um decidir quanto tempo será necessário para organizar as coisas com calma, já que os preparativos para o casamento geralmente começam depois do noivado.
Consequências jurídicas do rompimento de um noivado
É claro que a figura jurídica do noivado não poderia estar contida no dispositivo legal que trata dos direitos da família, visto que esta só passa a existir após a realização do casamento.
Também é verdadeiro que não se pode buscar na lei a obrigação de que o noivado não possa ser rompido. Casar não é uma obrigação prevista na lei.
O consentimento, no matrimônio, deve ser expresso e manifestado livremente e isto resulta na conclusão lógica de que qualquer dos nubentes pode se arrepender antes do cumprimento do que está contido no Artigo 1535, do Código Civil, que diz –
"Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nestes termos:
de acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados".
No entanto, não se pode perder de vista que o noivado pode gerar consequências jurídicas no campo do direito obrigacional.
É claro que essas consequências não dizem respeito a obrigatoriedade de que o casamento seja realizado, mas, sim, àquelas situações em que o rompimento do noivado pode gerar prejuízos ou danos materiais, ou morais, ao nubente prejudicado.
Portanto, o rompimento por si só não gera direito à indenizações, pois ninguém é obrigado a viver com outrem contra a sua vontade. Mas se o rompimento de tal promessa causar prejuízo patrimonial, ou moral, quer porque o nubente prejudicado realizou compras, ou porque contraiu dívidas, ou porque teve que deixar de trabalhar, ou fatos similares, caberá nestes casos, com base no princípio da responsabilidade civil, direito à indenização, conforme dispõem os Artigos 186, 187 e 927 do Código Civil, de 2002.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Título IX Da Responsabilidade Civil
Capítulo I- Da Obrigação de Indenizar
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Considerando que tudo tenha fluído normalmente, ou que tudo tenha dado certo, chegamos ao casamento.

8 de abril de 2010

Calvino, Armínio ou a Bíblia?

Um dos principais debates entre teólogos e crentes em geral gira em torno da soberania de Deus, da predestinação e do livre-arbítrio.
É comum ouvir expoentes defendendo o calvinismo e o arminianismo como verdades absolutas, dando a entender que a Bíblia pode ser manipulada a bel-prazer, a fim de ajustar-se a um sistema de interpretação.
Uns preferem aderir à perigosa neutralidade: "Isso é uma questão de interpretação. A Bíblia apóia tanto um quanto o outro. Essa questão não deve nos dividir".
Entretanto, alguém (ou ambos?) com certeza está errado ou enganado nessa discussão, haja vista não podermos nos apegar à falaciosa idéia de que a Palavra de Deus pode ser interpretada segundo o que pensamos.
Quer dizer, então, que uns podem se simpatizar com Calvino; e outros, com Armínio, certo? Todas as passagens da Bíblia que contrariam a um e a outro podem ser adaptadas a um ou a outro sistema de interpretação, a fim de satisfazer a todos? Que engano! A Bíblia não se amolda à lógica e ao pensamento humanos. Ela é a Palavra de Deus! E é ela que deve nos guiar (Sl 119.105).
Tenho observado que, quando alguém discorda de um ou de outro sistema, automaticamente é tachado disso ou daquilo. “Ah, você não crê no calvinismo? Então você é arminiano?”, dizem. Ou vice-versa...
Mas é bom que paremos com isso e aceitemos as verdades da Palavra de Deus como elas são.
O que ensina o calvinismo?
Este sistema de interpretação — baseado na teologia de Calvino — prega a predestinação incondicional, teoria pela qual se defende cinco pontos principais:
Eleição incondicional. Deus teria escolhido certos indivíduos para a salvação, antes da fundação do mundo. Tais eleitos, de modo soberano, são conduzidos a uma aceitação voluntária a Cristo. Quanto aos não-eleitos, já estariam condenados ao sofrimento eterno desde o útero!
Expiação restrita. A obra expiatória de Cristo teria sido realizada apenas em prol de alguns eleitos, e não por toda a humanidade.
Graça irresistível. O calvinismo afirma que o Espírito Santo chama os eleitos internamente, em seus corações, e os leva à salvação. Tal chamado não estaria limitado ao livre-arbítrio; é o Espírito quem, pela graça, conduz o eleito a crer e se arrepender.
Incapacidade total. Em decorrência do pecado, o homem teria perdido a capacidade de crer no evangelho. Ele possui a faculdade da volição, o livre-arbítrio, porém a sua vontade não é livre, na prática, haja vista estar presa à sua natureza decaída.
Impossibilidade de perda da salvação. Todos os escolhidos por Deus, pelos quais Jesus teria morrido, estariam eternamente salvos, haja o que houver. Eles, por conseguinte, perseverarão até o fim, não por sua própria vontade, mas por obra do Espírito Santo em seus corações.

E o arminianismo, o que ensina?
Este sistema — baseado nas interpretações de Armínio — afirma que, apesar de o pecado ter afetado seriamente a natureza humana, o homem não foi deixado em um estado de total impotência espiritual. Para ele, a eleição de certos indivíduos baseia-se na presciência de Deus, conhecimento prévio de que os eleitos corresponderão ao seu chamado. Acreditava que a obra de Cristo não assegurou efetivamente a salvação de ninguém.
É claro que calvinismo e arminianismo têm razão em alguns pontos que defendem — talvez um tenha mais razão do que o outro. Entretanto, se você, caro internauta, está se firmando na teologia desses homens falíveis, receio que esteja em um terreno movediço. Se você tem travado longos debates (como tenho visto em comunidades do Orkut, em blogs, etc.) para defender o pensamento deles, esqueceu-se de que “... toda carne é como erva, e toda a glória do homem, como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a palavra do Senhor permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada” (1 Pe 1.24,25).

 

O que a Bíblia diz sobre a eleição para a salvação?

Segundo a Palavra de Deus, tal escolha foi, primeiramente, coletiva. Deus elegeu em Cristo o seu povo (Ef 1.4,5; 1 Pe 2.9). Daí Jesus ter dito: “... edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Isso significa que o Corpo de Cristo foi escolhido antes da fundação do mundo.
Não houve uma eleição de uns indivíduos para a salvação e de outros para a perdição. E não venham me chamar de arminiano! Esta série de artigos é uma exposição do que está escrito nas páginas sagradas! Antes de me tacharem disso e daquilo, confiram o que a Bíblia diz à luz do contexto.
Então não existe eleição individual? Na verdade, o plano de salvação abrange todos os indivíduos que vão sendo incluídos na Igreja por meio da fé na obra de Cristo, como lemos em Atos 2.47: “... acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (ARA). A Igreja (como Corpo de Cristo) já foi eleita, porém ainda há lugar para mais pessoas, indivíduos, nesse Corpo: “... quem quiser tome de graça da água da vida” (Ap 22.17).
Jesus enfatizou que a eleição individual ocorre, mas para quem aceita o seu chamamento geral para a salvação (Mt 11.28-30). Ao afirmar que “... muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”, Ele revelou que, das multidões que ouvem o evangelho, apenas uma parte o segue (Mt 22.14).
De acordo com Efésios 1.5, o Senhor “... nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade”. No entanto, quando os indivíduos se tornam efetivamente filhos de Deus e parte integrante do povo eleito? A resposta está em João 1.12: “... a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome”.
A Palavra de Deus menciona também uma eleição individual para o ministério. Ela nada tem que ver com a eleição geral para a salvação. Paulo afirmou que Deus o separou desde o ventre de sua mãe e o chamou pela sua graça (Gl 1.15). O mesmo aconteceu com Davi (Sl 22.10), Jeremias (1.5), Isaías (49.1) e João Batista (Lc 1.15). Contudo, essa escolha soberana do Senhor para o santo ministério não interfere em seu desejo de salvar a todos os seres humanos (1 Tm 2.4).
Essa eleição individual também não exclui o livre-arbítrio, uma vez que os homens de Deus mencionados podiam desobedecer à chamada divina. Paulo deixou claro isso ao contar o testemunho de sua conversão ao rei Agripa: “E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava e, em língua hebraica, dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? (...) Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial” (At 26.14-19). E se o apóstolo tivesse desobedecido à visão?
Em Romanos 8.29,30, está escrito que Deus predestinou para a salvação aqueles que conheceu por antecipação. Mas, que o Senhor não conheceu antes da fundação do mundo? Todos nós fomos conhecidos quando ainda éramos pecadores (Rm 5.8). E, como veremos, à luz das Escrituras, Ele predestinou, em Cristo, toda a humanidade para a salvação (Rm 11.32; 6.23; 2 Pe 3.9). O Senhor não se vale de sua presciência para salvar ou condenar alguém. Ele sabia que Judas era “um diabo”; mesmo assim, chamou-o para fazer parte dos doze apóstolos (Jo 6.70).
Deus sempre soube o fim antes do começo (Is 46.10). Contudo, isso não significa que Ele tenha destinado de antemão uns à salvação e outros à perdição. A predestinação está relacionada com o plano redentor idealizado por Deus, o qual se estende a todos os seres humanos que crerem no Senhor Jesus (Jo 3.16).
Por sua presciência, Deus conhece os que o rejeitarão. Mesmo assim, não interfere, uma vez que dotou o ser humano de livre-arbítrio; Ele não viola esse princípio. Embora essa faculdade esteja grandemente prejudicada pelos efeitos deletérios do pecado, o homem tem, sim, como veremos, a capacidade de escolher entre o bem e o mal. Ele não é um ser autômato, um robô, um fantoche, mas um ser responsável por seus atos.

Na terceira parte desta série que visa a enfatizar o que a Bíblia diz sobre eleição, predestinação e livre-arbítrio, procurarei responder a três perguntas, todas à luz da Palavra do Senhor e considerando não só o contexto imediato de cada passagem empregada, mas também o contexto remoto, abrangente, haja vista as Escrituras interpretarem e confirmarem as próprias Escrituras.
Deus é justo? Sim. Em Atos 10.34, vemos que Ele não faz acepção de pessoas. Abraão até ousou perguntar-lhe: “Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25). O Justo Juiz, pois, negaria a sua justiça condenando indivíduos ao inferno antes da fundação do mundo?
No Areópago, em Atenas, Paulo anunciou que o Senhor deseja que toda a humanidade se arrependa, pois haverá um juízo para todos os homens (At 17.30,31). Isso significa que todas as pessoas estão predestinadas à salvação. Mas, para receber essa bênção, o homem precisa se arrepender dos seus pecados e crer que o único Mediador é Jesus Cristo (Mc 1.15; 1 Tm 2.5). O nosso Salvador “... quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4).
Ninguém pode negar que Jesus morreu por todos os seres humanos. Está escrito na Bíblia que Jesus “... é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.2). E esse “todo o mundo” não é uma alusão a alguns privilegiados eleitos. Não! Deus, em seu plano, desejou salvar a “todos os termos da terra” (Is 45.22). É pelo fato de Jesus ter morrido por todos (Hb 2.9) que o Espírito Santo convence o mundo, e não alguns escolhidos (Jo 16.8-11).
Se a teoria calvinista extremada da predestinação fosse verdadeira, não haveria necessidade de pregarmos o evangelho, visto que os não-eleitos jamais seriam salvos, mesmo que ouvissem as boas novas de salvação!
Entretanto, Jesus mandou pregar e ensinar a todos, em todo o mundo (At 1.8; Mt 28.19). Em Marcos 16.16, o Senhor afirmou: “... quem não crer será condenado”. Ele não teria dito isso se de fato tivesse ocorrido uma eleição incondicional e arbitrária antes que o mundo existisse.
Deus é amoroso? Sim. A Palavra do Senhor salienta que o seu amor é infinito e ilimitado (Jo 3.16; Rm 5.7,8). Jesus quer salvar os piores pecadores! Ele os vê como ovelhas que não têm Pastor (Mt 9.36). “Desejaria eu, de qualquer maneira a morte do ímpio? Diz o Senhor Jeová; não desejo, antes, que se converta dos seus caminhos e viva?” (Ez 18.23). Como poderia ter condenado de antemão aqueles a quem Ele mesmo deseja salvar?
Em João 6.51, a mensagem de Jesus foi ainda mais clara: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo”. Observe: Jesus ofereceu-se em sacrifício pela vida do mundo. E, quando alguém crê nEle, recebe a vida eterna (Jo 3.36). A Palavra de Deus diz ainda: “... se um morreu por todos, logo, todos morreram” (2 Co 5.14).
Existe livre-arbítrio? Sim. Os seguidores do calvinismo extremista — um evangelho teologicocêntrico, e não biblicocêntrico — afirmam que o livre-arbítrio ficou praticamente sem efeito depois da entrada do pecado no mundo. Contudo, as Santas Escrituras mostram que Deus, em todas as épocas, antes e depois da entrada do pecado no mundo, respeitou as decisões humanas.
Nos dias de Moisés, Josué e Elias (muito tempo depois da Queda), vemos como Deus desejava que os homens fizessem escolhas: “... te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente”; “... escolhei hoje a quem sirvais...”; “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; e, se Baal, segui-o” (Dt 30.19; Js 24.15; 1 Rs 18.21).
Em Isaías 1.18, Deus convidou os pecadores a argüi-lo, a fim de que recebessem o perdão de seus mais terríveis pecados, porém deixou claro que respeitaria as suas decisões: “Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada, porque a boca do Senhor o disse” (Is 1.19,20). O salmista escolheu o caminho da verdade (Sl 119.30) e, sem duvidar, teve segurança para fazer este pedido a Deus: “Venha a tua mão socorrer-me, pois escolhi os teus preceitos” (v. 173).
Em Apocalipse 22.17, no último livro da Bíblia, a água da vida não é oferecida a alguns eleitos para a salvação. Não! Jesus a oferece a quem tem sede e quer tomá-la de graça! Aleluia! Outrossim, o Senhor se importa com aqueles que invocam o seu nome (At 2.21). Por isso, ao pregar a Palavra de Cristo na casa de Cornélio, Pedro afirmou: “A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (At 10.43).

Uma das questões que geram mais debates entre calvinistas e arminianos gira em torno da graça de Deus para a salvação do ser humano. Seria ela irresistível? Teria o pecador como resisti-la?
Para os predestinalistas, posto que todos os "eleitos" já foram designados de antemão, a graça para eles é irresistível; não lhes pertence decidir se a receberão ou não. Quanto aos outros, já estão condenados antes da fundação do mundo. Mas o arminianismo contesta isso, embora valendo-se de alguns argumentos extremistas, supervalorizando a cooperação humana, e quase que invalidando e neutralizando a graça de Deus.
Nesta quarta parte, consideraremos, de maneira sucinta e objetiva, o que a Palavra de Deus diz sobre a ação graciosa do Espírito Santo ao convencer o pecador do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11).
Segundo a Bíblia, não existe graça irresistível, pois o homem pode, sim, recusar-se a aceitar o chamamento do Senhor (Hb 3.12; 12.25; At 7.51; 13.46). As Escrituras afirmam que Deus está conosco enquanto estivermos com Ele; se o deixarmos, também nos deixará (2 Cr 15.2). Em Hebreus 3.15, está escrito: “Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação”.
Mas ai daqueles que resistem à graça. Não serão condenados por estarem predestinados ao Inferno. Antes, serão lançados no Lago de Fogo por resistirem ao Espírito da graça: “De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10.29).
Os seguidores do calvinismo extremista se apegam a passagens isoladas, como João 6.37,44 e 10.29, para afirmar que apenas alguns eleitos são encaminhados pelo Pai a Jesus. Na verdade, tais passagens mostram, à luz do contexto, que até para aceitar a chamada para a salvação, o ser humano precisa de capacitação divina. É Deus quem concede a fé quando o pecador ouve a Palavra (Rm 10.17); e é Ele quem dá a possibilidade de arrependimento (At 11.18). A salvação é pela graça de Deus (Ef 2.8,9).
Não há méritos humanos na salvação. Ninguém pode se gloriar: “Eu sou salvo porque tive fé” ou “Sou regenerado porque eu me arrependi”. Deus pôs na alma humana três faculdades: sentimento, intelecto e vontade. Por elas o homem pode ouvir a mensagem do evangelho, sentir suas misérias e crer para a salvação (Rm 10.9,10; Lc 15.17-19). Em outras palavras, Deus indica o caminho (Jo 14.6) e provê os meios de o homem entrar por esse caminho. E cada indivíduo, de posse desses meios, escolhe entre a vida e a morte (Mt 7.13,14).
No próximo artigo desta série discorreremos sobre a pergunta "Uma vez salvo, salvo para sempre?"

Na quinta parte desta série discorro sobre a segurança da salvação e examino o emblemático bordão “Uma vez salvo, salvo para sempre”.
Os que se apegam ao ultra-arminianismo entendem que a salvação é perdida por qualquer motivo, enquanto os hiper-calvinistas crêem na impossibilidade da perda de salvação. Ambos estão errados, à luz da Bíblia.
Esclareço que não sou arminiano, tampouco inimigo de Calvino. Uma das estratégias dos predestinalistas é dizer logo, apressadamente, acerca de quem se opõe às suas idéias: “Fulano é arminiano”, na tentativa de tirar dele a autoridade. Mas o que exponho neste artigo é o que está escrito na Bíblia. E o meu desejo é que todos reflitam à luz da Palavra de Deus, em vez de pensarem que eu quero convencê-los da “minha verdade”.
Bem, a despeito de não perdermos a nossa convição de vida eterna por qualquer motivo, a permanência consciente no pecado pode sim levar-nos à perda da salvação (Pv 29.1; Hb 10.29), uma vez que a segurança dela depende de nossa cooperação (1 Tm 4.16).
Está escrito na Bíblia: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se é que não crestes em vão” (1 Co 15.1,2). Observe como a manutenção da nossa certeza da salvação está condicionada à obediência ao evangelho verdadeiro (2 Co 11.3,4; Gl 1.8).
Em Mateus 23.37, Jesus disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” Note que o Senhor Jesus quis ajuntar os filhos de Jerusalém, porém eles não quiseram que Ele assim o fizesse. Isso não é uma evidência de que o Senhor respeita a livre-vontade humana?
Como já vimos nesta série, nenhuma pessoa foi destinada de antemão à condenação (Is 50.2; Ez 18.32). A Bíblia menciona a possibilidade de alguém negar o Senhor que os resgatou (2 Pe 2.1) e perder a salvação: “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro” (v.20).
Isso significa que as pessoas resgatadas, isto é, compradas, purificadas pelo sangue de Jesus, justificadas, regeneradas, santificadas e libertas, se não guardarem o que têm recebido do Senhor, serão condenadas! Veja: “... melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado” (2 Pe 2.21). Se tais pessoas nunca foram salvas de fato, como isso pode ser dito acerca delas? Como seriam culpadas do seu desvio, se desde o iníncio estavam destinadas à perdição, como afirmam os predestinalistas?
Aos que se desviam da verdade o Senhor dá tempo para que se arrependam (Ap 2.20,21). Alguns salvos em Cristo, resgatados, infelizmente têm apostatado da fé, “... dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (1 Tm 4.1). E não pense que esse texto se refere aos ímpios. Não! Pois eles não têm de que apostatar! Segue-se que os eleitos podem perder a salvação se não permanecerem em Cristo!
Não é isso que vemos, ao estudar sobre as igrejas da Ásia? Os conselhos para aquelas igrejas abrangeram dois aspectos: arrependimento e manutenção da posição em Cristo. A ordem “Arrepende-te” foi transmitida à maioria (Ap 2.5,16; 3.3,19). Para as outras, o Senhor disse que deveriam guardar, reter, conservar o que tinham, até à morte, para que não perdessem a coroa (Ap 2.10,25; 3.11). O crente que se acomoda, pensando estar salvo para sempre, está iludido e dormindo espiritualmente.
O pastor da igreja em Sardes estava morto — e não sabia! — e precisava tomar uma posição diante do Senhor (Ap 3.1). Conquanto o Senhor Jesus tenha feito a sua parte, ao nos resgatar, temos de operar ou desenvolver a nossa salvação (Fp 2.12; Ef 2.10; Hb 6.9). Em 2 Timóteo 2.10, está escrito: “... tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna”.
Quando Paulo navegava como prisioneiro para a Itália, houve uma grande tempestade no mar (At 27.18-20). Deus, então, enviou um anjo para dizer-lhe que todos escapariam vivos. E Paulo transmitiu a mensagem aos que estavam no navio, estabelecendo uma condição: permanecer na embarcação (vv. 22-31). Conclusão: “E assim aconteceu que todos chegaram à terra, a salvo” (v. 44).
Da mesma forma, quando o pecado entrou no mundo, todos os homens foram nivelados ao estado de pecadores (Rm 3.23; 5.12). Deus podia ter posto fim ao “projeto homem”, porém já tinha um plano redentor: “... encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia” (Rm 11.32). Ele colocou à disposição de toda a humanidade o “navio da salvação”. Quem entrar nesse navio e permanecer nele até ao fim chegará ao “porto da salvação” (Hb 3.6).
Quem quiser pode “navegar” em outras “embarcações” ou “canoas furadas”. Contudo, é melhor permanecer no “navio da salvação”, em Cristo, pois a segurança da salvação é para quem nEle permanecer (Jo 10.28). Ninguém pode arrebatar, raptar, o crente da mão de Jesus, a menos que o próprio crente negue a sua fé, seguindo a falsos doutores (2 Tm 4.1-5).
Confiar cegamente na segurança da salvação é agir como as pessoas que embarcaram no Titanic. Achavam que o navio jamais afundaria... Que engano! Em 2 Coríntios 1.13, está escrito: “Porque nenhumas outras coisas vos escrevemos, senão as que já sabeis ou também reconheceis; e espero que também até ao fim as reconhecereis”. Vigiemos, pois, para que não soframos um “naufrágio na fé” (1 Tm 1.19). Atentemos para a advertência da Palavra de Deus, que diz: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” (1 Co 10.12).
Fomos transportados das trevas para a luz; e da morte para a vida (1 Pe 2.9; Jo 5.24). Contudo, se negarmos o Senhor, Ele também nos negará (2 Tm 2.12; Mt 10.32,33). Os nossos nomes estão registrados no livro da vida, mas isso não autentica a máxima predestinalista: “Uma vez salvo, salvo para sempre”. A Palavra de Deus afirma: “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida...” (Ap 3.5). Ou seja, Jesus não riscará o nome de quem vencer!

4 de abril de 2010

Escândalos de abusos sexuais reabrem o debate sobre o celibato na igreja

Especialistas sustentam que não há relação direta entre a castidade e a pedofilia; os últimos escândalos reabrem o debate sobre a norma que proíbe o casamento

Os escândalos de abusos sexuais na Igreja Católica reabriram o debate sobre se há na instituição – e, mais especificamente, no voto de castidade que ela exige de seus membros – algum fator que faça com que os sacerdotes e outros religiosos sejam mais propensos à pedofilia. Ou, se ao contrário, a ampla dedicação à docência e à igreja e o fato de tratar-se de uma instituição fechada e protetora com seus membros a transforma num refúgio preferido por aqueles que a veem como um meio para ficarem mais próximos de suas vítimas.

A combinação desses comportamentos – a opção pelo celibato e a de manter relações não consentidas com menores de idade – faz com que seja difícil encontrar dentro da hierarquia eclesiástica pessoas que queiram opinar sobre esse assunto controverso. Para começar, a Conferência Episcopal Espanhola, a quem isso poderia ser um tema de interesse, é a primeira que se nega a comentar este aspecto, segundo manifestou seu porta-voz Isidro Catela à reportagem.

Todos os especialistas consultados concordam em negar qualquer relação direta entre o celibato e a pedofilia. “Ser sacerdote ou celibatário incentiva à pedofilia? Claramente não. Ser pedófilo incentiva ao sacerdócio? Sim, porque a igreja atua como elemento protetor, como um guarda-chuva, uma vez que o pedófilo sempre pensa que é melhor cair nas mãos do bispo que da justiça”. Esta é a opinião de Pere Font, diretor do Instituto de Estudos da Sexualidade e da Pareja de Barcelona, com mais de três décadas de experiência no assunto. Font considera que a Igreja, sem querer, transformou-se num refúgio para os abusadores de menores. “Os instintos pedófilos aparecem na adolescência e nos primeiros anos da juventude. Ou seja, quando eles entram no seminário já apresentam alguns estímulos. Dito isto, quero esclarecer que o celibato complica mais esta situação porque não oferece uma saída diferente para as necessidades sexuais de um pedófilo. Mas a Igreja não fabrica pedófilos. Definitivamente não.”

A análise de Font coincide com a de Francisco Alonso Fernández, presidente do Instituto de Pesquisas da Língua Espanhola. “Indubitavelmente, entre o celibato e a pedofilia há uma dupla ligação estatística, um duplo vínculo causal”. Centrando-se no que ele define como pedofilia primária (a que não obedece a uma situação transitória no desenvolvimento da pessoa ou aos efeitos de um transtorno mental), ele afirma que as pessoas que sentem uma atração por crianças “escolhem profissões” que as permitam estar em contato com elas. “Os estudos mencionam os monitores, os treinadores esportivos, os sacerdotes e frades e os motoristas de ônibus escolar”, afirma. Eles escolhem essas profissões “para mascarar sua pedofilia”, acrescenta. “Não há muitos pedófilos trabalhando em instituições geriátricas”, acrescenta Pere Font.

E, ao mesmo tempo, pensando no caso dos religiosos, Francisco Alonso aponta que o celibato “pode ativar a tendência em relação aos meninos”. “É lógico que uma pessoa que não é capaz de ter uma relação com um adulto busque refúgio num grupo que o obriga a manter-se casto”, afirma. Mas ele destaca que esse tipo de comportamento se dá “em todos os contextos sociais, culturais e religiosos, e não só entre os católicos”. E os dados deste catedrático emérito da Universidade Complutense comprovam: “Em três entre cada quatro casos de pedofilia já existia uma relação anterior entre a criança e o adulto; em 15% das vezes o adulto era um professor.”

Na mesma linha, o vice-presidente da Associação Espanhola de Psiquiatria Legal, Alfredo Calcedo, aponta que “está provado que as pessoas com inclinações pedófilas buscam trabalhos nos quais estejam em contato com crianças”. E Font recorda, por exemplo, o caso do casal do bairro de Raval, em Barcelona, em que Xavier Tamarit, condenado a 66 anos de prisão por oito delitos de abusos sexuais a menores, atuava como educador infantil.

Calcedo também não acredita que o celibato aumente esta tendência pois afirma que, com toda certeza, entre os religiosos existe a mesma proporção de heterossexuais, homossexuais ou pedófilo “que entre a população em geral”. As únicas estatísticas conhecidas realizadas pela Igreja Católica se referem à Alemanha, onde o escândalo da pedofilia já afeta 19 das 27 dioceses. Desde 1995, foram denunciados 210 mil casos de abusos e apenas 94 envolviam religiosos. O que representa uma taxa de 0,044%. A diferença é que, no caso dos sacerdotes, “houve uma estrutura que os escondeu”, aponta. Font também acrescenta que houve sacerdotes que, “com toda honestidade”, acreditaram que as “profundas crenças religiosas, éticas e morais da Igreja freariam suas tendências à pedofilia”.

O coordenador do Grupo de Andrologia da Associação Espanhola de Urologia, Ignacio Moncada, enfatiza que “o celibato e a abstinência sexual são algo antinatural”. “Não há nada provado do ponto de vista fisiológico que a abstinência sexual conduza a uma maior atração por crianças”, aponta, mas “reprimir o instinto sexual não deixa de colocar a pessoa numa situação de estresse psicológico”. “Como não é algo normal, leva à frustração do indivíduo”.

Claro que esta situação pode ser resolvida “sublimando” o instinto. Não foi provado que isso leve a fazer sexo com crianças mais do que a fazer com mulheres ou homens, segundo a orientação prévia de cada um, admite Moncada, mas “provavelmente, ao tentar evitar relações com mulheres – que é a orientação da maioria – e ficar mais próximo de menores, aparece esse impulso”, afirma. De qualquer forma, o urologista insiste que não há estudos conclusivos e que estas teorias são “uma tentativa de encontrar uma causa para algo que não é perdoável”.

Se os psiquiatras e sexólogos consultados não duvidam em levantar uma barreira intransponível entre o celibato e a pedofilia e incluí-los em compartimentos estanques, a resposta para a pergunta de se a castidade é um elemento perturbador para a saúde do indivíduo não desperta a mesma unanimidade.

“A própria Organização Mundial de Saúde inclui uma definição de saúde sexual como parte do conceito mais amplo de saúde”, comenta Pere Font. O psicólogo se faz a seguinte pergunta: “A sexualidade é uma opção ou uma necessidade?”. E responde: “Quando temos sede, podemos demorar mais ou menos para beber, mas por fim tomamos líquido. O mesmo acontece com a comida. Portanto, a sexualidade também tem um componente fisiológico importante e é uma necessidade mais do que uma opção”. E aponta que carecer de uma vida sexual saudável nos deixa mais suscetíveis, inquietos e irritáveis. “O sexo é uma força da natureza que não se pode impedir, não é domesticável. No máximo acomodável. Não temos um botão de desliga com o qual podemos apagar nosso desejo sexual”, acrescenta.

Entretanto, Jordi Font, psiquiatra e psicoterapeuta, professor de psicologia e psicopatologia das experiências espirituais e religiosas da Fundação Vidal i Barraquer de Barcelona e, além disso, licenciado em Teologia, enfatiza que o celibato não é exclusivo do catolicismo e insiste em diferenciar entre a sexualidade - “a especificamente humana, entendida em todas as suas dimensões” - e o aspecto erótico da mesma. “A pretensão do celibato é viver a sexualidade em sua plenitude priorizando o que tem de mais valor nela, que para o celibatário é a sua dimensão espiritual, a que vai do amor egocêntrico para o amor aos outros”. Por isso que o celibatário renuncia a ter mulher e filhos porque, afirma, “o objetivo de seu amor vai mais além do de uma pessoa concreta, é aberto a Deus e se realiza em todo ser humano.”

Jordi Font reconhece que todas as pessoas têm uma tendência erótica e, portanto, quando o celibatário sente um estímulo erótico deverá saber superá-lo, e não reprimi-lo, “como também o faz o não celibatário livremente quando lhe convém”. Conseguir isso dependerá, em sua opinião, de seu grau de maturidade pessoal e espiritual. E se não conseguir? “Tanto o celibatário quanto um dos membros de um casal podem cometer infidelidades, mas todos devem estar conscientes de que estão rompendo um compromisso adquirido por amor, mas as falhas podem ser perdoadas quando há amor”. E conclui: “O celibato não é só um compromisso com Deus, mas também com os demais.”

Depois de todos esses escândalos, o Vaticano quis esclarecer o debate sobre o celibato para os sacerdotes. Entretanto, o jesuíta e ex-cardeal de Milão Carlo María Martini, voltou ontem a pedir que a Igreja católica reformule a obrigação do celibato, como já havia feito em seu livro Coloquios Nocturnos em Jerusalém. Num artigo no jornal austríaco Die Presse, Martini escreveu: “As questões de fundo da sexualidade devem ser repensadas a partir do diálogo com as novas gerações (…) porque devemos reformular os problemas de base para reconquistar a confiança perdida.”