17 de dezembro de 2011

Celebrar ou não o Natal em 25 de dezembro?

Não se sabe, ao certo, quando o Senhor Jesus nasceu. Pesquisadores argumentam que Ele teria nascido entre a segunda metade de março e a primeira metade de abril, visto que nessa época a temperatura é mais suportável na Palestina. Em dezembro, o forte frio seria um obstáculo à iniciativa imperial de realizar um alistamento (Lc 2.1-3). Isso é reforçado pelo fato de os pastores estarem no campo na noite de Natal (v.8).
A data de 25 de dezembro tem origem pagã e é rejeitada por muitos especialistas em história e cronologia bíblicas. Até o século III, o nascimento de Jesus era comemorado no fim de maio, no Egito e na Palestina. Em outros lugares, era celebrado no começo de janeiro ou no fim de março. O imperador Aureliano estabeleceu, em 275, a comemoração obrigatória do Natalis Invicti Solis(Nascimento do Sol Vitorioso) em 25 de dezembro. E, a partir de 336, o romanismo, fazendo uma unificação sincrética de várias festas religiosas, adotou essa data oficialmente para a comemoração do nascimento de Jesus.
Como seguidores de Cristo, não somos deste mundo (Jo 17.16), mas vivemos nele. E, por isso, temos de conviver, a cada ano, com dois Natais: o verdadeiro, pelo qual celebramos o nascimento do Senhor Jesus Cristo; e osecular, capitalista, sincrético, comemorado em uma data pagã, no qual o Aniversariante torna-se um mero coadjuvante. Como devemos nos comportar diante da realidade desses dois Natais?
Penso que devemos aproveitar esse período do ano para apresentar Jesus Cristo ao mundo. E podemos fazer isso por meio de cantatas ao ar livre e nos centros comerciais, cultos e mensagens especiais, evangelísticas, nos templos, publicação de textos alusivos ao nascimento de Cristo, etc. Além disso, devemos aproveitar o lado bom do Natal secular (cf. 1 Ts 5.21). Afinal, que mal existe em as famílias cristãs — que conhecem o verdadeiro sentido do Natal — aproveitarem as coisas boas da festa secular do Natal, como a confraternização, a troca de presentes e a beleza das cidades enfeitadas?
Deve o cristão residente em (ou em viagem a) São Paulo, Rio de Janeiro, Penedo, Natal, Fortaleza, Curitiba, Gramado e Canela, Buenos Aires, Paris, Nova York, por exemplo, ficar em casa ou no hotel, em sinal de protesto ao Natal secular? Não pode ele aproveitar esse período do ano para passear com a família e tirar fotos nos lugares enfeitados? E mais: há algum problema em colocar presentes debaixo de uma árvore colorida e enfeitada, a fim de abri-los à meia-noite do dia 25 de dezembro?
É claro que há celebrações e celebrações. Algumas nós devemos ignorar sumariamente, como o Carnaval. Mas de outras podemos participar, com prudência e vigilância. Citei o Carnaval como exemplo negativo porque essa festa é completamente mundana, bem como está atrelada à imoralidade e, objetivamente, ligada aos cultos afro-brasileiros.
Quanto ao Natal, convém ser extremista e perder uma grande oportunidade de se alegrar com todos os membros da família? Afinal, os dias que antecedem essa celebração, especialmente a véspera, são um período de alegria, expectativa, em que a família se reúne para se confraternizar.
Não ignoramos o paganismo, impregnado na sociedade brasileira. Mas as questões relacionadas com os festejos do Natal passam, obrigatoriamente, por uma análise dos princípios bíblicos. O cristianismo é equilibrado. Está implícito em Eclesiastes 7.16,17 que não nos é vedado o entretenimento. Ademais, a participação eventual, com prudência e vigilância, em festas pagãs é mencionada em 1 Coríntios 10.23-32. Jesus participou de festas em que havia pessoas pecadoras e comia na casa de publicanos.
Que males o Natal secular traz, efetivamente, para a vida e a família cristãs? Alguém responderá: “O Papai Noel usurpa o lugar de Cristo. E a árvore de Natal é idolátrica”. Bem, penso que nenhum crente em Jesus Cristo põe uma árvore de Natal em sua sala em louvor a ídolos. Se priorizarmos a origem pagã de todas as coisas, em detrimento do uso hodierno, teremos de proibir vestido de noiva, bolo de aniversário, ovos de chocolate...
Não somos do mundo, mas estamos no mundo! Conhecemos bem a origem dos elementos da festa secular do Natal. Contudo, lembremos do que a Palavra do Senhor assevera em 1 Coríntios 6.12: “todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”.
Quanto às crianças, sabemos que elas vivem no mundo da fantasia. E muitas, por influência dos colegas de escola, da mídia, etc., acreditam em Papai Noel. Cabe aos pais cristãos mostrar a elas, com muita sabedoria, o verdadeiro sentido do Natal. Não é preciso se opor ferrenhamente ao Natal secular. A transição do mundo da fantasia para a realidade ocorre de modo natural. Com o tempo, a criança percebe que o Papai Noel é uma figura ficcional, mítica, e que o Senhor Jesus é real.
Tudo nessa época do ano gira em torno de enfeites coloridos, com desenhos de Papai Noel, árvores de Natal, etc. Caso os pais sejam extremistas, terão de proibir as crianças também de frequentar aulas a partir de novembro, de ir ao shopping e de assistir a desenhos animados pela televisão ou pela Internet, etc. Seria mesmo saudável não permitir aos infantes esse contato com o mundo da fantasia, própria desse período da vida?
Sabemos que as únicas pessoas que, de fato, acreditam em Papai Noel são as inocentes e ingênuas crianças. De que adianta os pais proibi-las desse encantamento natural e passageiro? Privá-las dessa alegria é uma maldade sem tamanho, atrelada à hipocrisia farisaica. Lembremo-nos do que disse o Senhor Jesus em Mateus 23.24: “Condutores cegos! Coais um mosquito e engolis um camelo”.
Geralmente, os extremistas que se preocupam com superfluidades são os mesmos que, inconscientemente, louvam ao “deus Papai Noel”. Ao contrário dos magos do Oriente, que tinham uma oferta para o Menino, os tais só querem receber, receber, receber... Coam mosquitos, mas engolem camelos.
Os pais excessivamente preocupados com questiúnculas têm ensinado seus filhos em casa (Dt 6.7) e os conduzido à Escola Bíblica Dominical para aprenderem a Palavra do Senhor? Privar nossa família da alegria desse período de festas é uma atitude cristã exemplar? Proibir uma criança de posar para uma foto ao lado do chamado bom velhinho ou de uma árvore enfeitada, em um shopping, é louvável?
Sinceramente, um pai que, tendo condições, não presenteia o seu filho, nessa época, está agindo de modo extremado, provocando a ira dele (Ef 6.4). Imagine como reage a criança que ouve de um pai: “Não vou lhe dar presente de Natal porque esta festa é pagã e consumista, e eu não quero agradar a Leviatã”. Isso denota zelo e santidade, ou falta de equilíbrio e hipocrisia? Pense nisso.

Créditos: BLOG do Ciro –> http://cirozibordi.blogspot.com

10 de dezembro de 2011

Jesus Cristo não nasceu em 25 de dezembro!

Apesar deste assunto apresentar correntes que defendem exatamente o oposto, tudo indica, conforme o estudo que abordarei abaixo, que o dia 25 de dezembro não é a data real em que nasceu Jesus de Nazaré, o Cristo – Filho de Deus.
A minha intenção neste comentário não é a de querer mudar a data de nascimento de Jesus para outro dia qualquer, ou mesmo fazer com que as pessoas fiquem confusas ao comemorar o nascimento de Cristo, numa data que se repete há mais de 2000 anos; e sim uma abordagem acadêmica sobre esta “polêmica” teoria.
A Paz esteja com todos os leitores, e desejo um Feliz Natal, e próspero Ano Novo (que também teve sua origem no paganismo [rs])

O CALENDÁRIO CRISTÃO E O NATAL DE CRISTO


E o verbo se fez carne – O nascimento de Jesus
“E tu Belém Efrata, posto que pequena entre milhares de Judá, de ti me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” – (Miquéias 5:2[1]
O profeta Miquéias foi contemporâneo do profeta Isaías, tendo escrito seu livro por volta do ano 725 a.C., quando profetizou que o nascimento de Cristo aconteceria em Belém, de Judá.
Este evento, que na Cristologia marca o tempo da encarnação do Verbo, foi tão importante que dividiu a história da humanidade em dois grandes períodos: antes de Cristo e depois de Cristo, assinalados respectivamente pelas siglas “a.C.” e “d.C.”
Todavia, na época do seu nascimento, no tempo em que Jesus viveu na terra como homem, bem como nos primeiros séculos da formação da igreja e do desenvolvimento do cristianismo, o acontecimento de Belém não chamou a atenção dos historiadores, razão porque a data do nascimento de Jesus não mereceu registro na história.
Valendo-me do ensejo[2] e considerando que o mundo cristão tem como certo que ele nasceu cerca do ano 4 a.C., que a sua encarnação durou 33 anos, e que ele morreu no ano 29 d.C., procurarei esclarecer nas linhas seguintes, uma dúvida que muitos não conseguem entender, ou seja, que Jesus nasceu no ano 4 a.C., e não no limiar do ano 1 d.C., como “deveria ser”.
O Calendário Romano e o Calendário Cristão
O mundo, quando ocorreu o nascimento de Jesus, era regido pelo Calendário Romano, baseado na fundação da cidade de Roma, ou seja, os romanos passaram a contar o tempo com base nesse momento histórico. Roma teria sido fundada por volta do ano 753 a.C.
Porém, em 395 d.C. o Império Romano dividiu-se em dois, entrando então em decadência. Em 476 da nossa era, caía o Império Romano do Ocidente, cuja capital era Roma.
Se atentarmos para a história da Igreja, nesta época, a cristianismo já estava “romanizado”, ocupando cada vez mais espaço, enquanto o domínio do Império prosseguia em decadência. Sendo assim, o antigo Império Romano ia sendo substituído, no poder, pela Igreja Católica Romana, cujo governo passou a ser exercido pelo Bispo de Roma, que, depois foi elevado à condição de Papa.
A mudança do Calendário
Com a queda de Roma e a ascendência da Igreja cristã romanizada, já não havia mais motivo para o chamado “mundo cristão” continuar contando o tempo com base no calendário romano, que tinha a fundação na cidade de Roma como referência inicial.
Assim, no século VI, o Papa[3] decidiu criar um calendário cristão, tendo como vertente, o nascimento de Jesus. Com este objetivo encarregou o Abade Dionísio Exiguus, que viveu entre os anos 470 e 544 d.C., para elaborar o referido calendário, o qual deveria tomar como ponto de partida, o nascimento de Jesus.
Pelos cálculos de Dionísio, o nascimento de Jesus teria ocorrido no ano 754 do Calendário Romano, sendo que ele deveria começar o ano primeiro da era cristã.
O erro de Dionísio
O historiador Josefo demonstra, no entanto, que o Rei Herodes – o Grande[4] morreu depois do nascimento de Cristo. Mateus, no seu evangelho, também comprova esta verdade.
“E, tendo nascido Jesus em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém” – (Mateus 2:1)
Fala ainda da morte de Herodes:
E, tendo-se eles retirado, eis que o anjo do Senhor apareceu a José em sonhos, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga, porque Herodes há de procurar o menino para o matar. E, levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egito.” (Mateus 2:13-14).
“Morto, porém, Herodes, eis que o anjo do Senhor apareceu, num sonho, a José, no Egito, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino” (Mateus 2:19-20).

A morte de Herodes aconteceu antes de 754 da era da fundação de Roma
Foram encontrados documentos comprovando que o Rei Herodes morreu 37 anos depois da sua nomeação pelo Senado Romano para ser rei da Judéia, ocorrido no ano 714.
Tendo sido nomeado por volta de 714 e tendo morrido 37 anos depois, segue-se portanto, que sua morte aconteceu por volta do ano 750 ou 751, do Calendário Romano.
Como Dionísio havia calculado que o nascimento de Jesus teria ocorrido em 754, nesta data Herodes já estava morto há quatro ou cinco anos.
Mas, segundo Josefo e Mateus, o menino Jesus e seus pais estavam escondidos no Egito quando da morte de Herodes[5]
Josefo dá mais detalhes sobre a morte de Herodes
Josefo conta que pouco antes da morte de Herodes, foram executados, por sua ordem, dois rabinos judeus, e que na noite desta execução aconteceu um eclipse da lua. Os cálculos da astronomia indicam que na noite de 12 ou 13 de março do ano 750 a.C. houve um eclipse parcial da lua, e que em 751 não houve nenhum eclipse.
Ainda, segundo Josefo, Herodes morreu pouco antes da Páscoa. No ano 750 a.C., ela foi realizada no dia 12 de abril. Portanto, baseado nas informações deste historiador, tem-se certo que a morte do rei Herodes ocorreu em 1º de abril do ano 750 (do Calendário Romano), ou seja, quatro ou cinco anos antes da data estabelecida por Dionísio para o início do calendário cristão. Ele calculou que o nascimento de Jesus teria ocorrido em 754 do ano de Roma.
Comprovado o erro de Dionísio, então a igreja de Roma, na impossibilidade de refazer o calendário, retrocedeu a data do nascimento de Jesus para 4 a.C. Assim, o Calendário Cristão não começou a vigorar no momento da mudança do Calendário Romano para o início do Calendário Cristão, ou seja, no marco zero da era cristã.
Portanto, nosso calendário, que é o mesmo elaborado por Dionísio, Jesus nasceu no ano 4 a.C., morrendo com 33 anos, no ano 29 d.C.
A data do nascimento de Jesus
Não há qualquer comprovação de que o nascimento de Jesus aconteceu no dia 25 de dezembro, ou na noite de 24 para 25.
Esta foi, inicialmente, proposta por Dionísio. Porém, conforme sabemos, ele errou quanto ao seu nascimento.
Analisando a história, temos ciência de que até o século III, o nascimento de Jesus não era comemorado, sendo que os pregadores (incluindo os apóstolos Paulo e Pedro) davam toda a prioridade à sua morte e ressurreição, que constituíram o pilar do cristianismo.
Porque 25 de dezembro
Esta data de 25 de dezembro, como sendo o dia do nascimento de Jesus, somente foi introduzida no quarto século, mas precisamente no ano 336 d.C., em Roma, porém, sem qualquer fundamento bíblico.
Historicamente falando, ao que parece, não houve interesse entre os primeiros cristãos, pela celebração do nascimento de Jesus, através de alguma data específica, embora desde o começo, a sua ressurreição tenha sido celebrada semanalmente, ou seja, no primeiro dia da semana, que denominamos de domingo.
Antes que a Igreja Romana oficializasse a data 25 de dezembro, no ano 336 d.C., outras datas foram utilizadas.
Pela história, sabemos que a primeira comemoração do natal aconteceu na época de Hipólito, bispo de Roma, na primeira metade do século III, tendo sido escolhido o dia 2 de janeiro. Outras datas foram depois escolhidas, como 20 de maio, 18 ou 19 de abril, 25 ou 28 de março.
Finalmente, 25 de dezembro
Conforme a história da Igreja, o cristianismo foi declarado como religião oficial do império, pelo Imperador Constantino, no século IV. Isso atraiu milhares de pessoas para o cristianismo, pois logo adiante, seria obrigatório aos cidadãos romanos, serem “cristãos”
O público pagão, movido por medo, vinham para o cristianismo, porém traziam consigo toda a bagagem da sua antiga religião, sem cortar relações com o paganismo.
Os pagãos celebravam a festa do “deus sol”, no dia 25 de dezembro. Esta festa tinha a finalidade de celebrar o solstício de inverno[6], ou o renascimento do sol, quando e hemisfério norte do globo terrestre, os dias começam a tornar-se mais longos.
Logo após a festa do “deus sol”, começavam, na seqüência, as “saturnálias” romanas, uma festa dedicada a Saturno, deus da agricultura, devido a influência do sol na vida e desenvolvimento das plantas.
Por ocasião destas festas, os falsos cristãos vindo do paganismo, sem que tivesse havido conversão (ao cristianismo), deixavam os trabalhos da igreja, indo comemorar juntamente com os que permaneciam no paganismo, tanto a festa do “deus sol” como também as “saturnálias”.
Consta ter sido o Imperador Constantino quem estabeleceu 25 de dezembro como sendo o Dia de Natal.
O argumento usado, foi que Deus na Bíblia, é comparado ao sol, sendo assim, Jesus era o Filho do Sol.
Porém, na verdade, fazer coincidir estas duas festas (Natal de Cristo e festa do “deus sol”), foi uma maneira de procurar evitar que os cristãos, não convertidos, por certo deixassem a igreja, e ir comemorar suas “festas particulares” com os demais pagãos.
O Oriente aceitou o 25 de dezembro como sendo o dia do nascimento de Jesus, cerca de um século depois. Porém, os cristãos armênios[7] continuam não aceitando. Eles comemoram o natal em 6 de janeiro.
Ainda, segundo alguns comentaristas, o nascimento de Jesus não poderia ter ocorrido no dia 25 de dezembro, pois, nesta época era inverno em Israel, época em quem as noites eram frias e os pastores não saiam com o rebanho, permanecendo com eles em seus apriscos, ou currais de ovelhas.
No entanto, temos o relato bíblico de que na noite em que Jesus nasceu os pastores estavam no campo com os rebanhos:
“e ela deu à luz seu filho primogênito, [8]envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para ele na sala.[9]
“Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. O Anjo do Senhor[10]apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, disse-lhes: “Não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor,[11](Lucas 2:7-11).
Concluindo, podemos afirmar que o natal comemorado em 25 de dezembro, tem uma origem pagã.
Quem é Jesus Cristo
Em Jesus Cristo se encontram o “Filho do Homem”, a descendência de Abraão e de Davi, com o “Filho de Deus”, o que:
“No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus (João 1:1-2).
Conforme apresentado, Jesus é o nome humano que o “Filho de Deus” recebeu para viver entre nós e consumar o plano da redenção elaborado e desenvolvido pelo Pai.
O redentor, aquele que deveria pagar com seu próprio sangue a dívida contraída pelo homem[12], em conseqüência do pecado, tinha que ser parente do homem escravizado.
Cristo, sendo Deus, não era parente – era o Criador
“Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” – (Colossenses 1:16-17).
Então, para ser parente, Ele necessitava despir-se de Sua glória, tornando-se homem, “nascido de mulher”, em Belém de Judá, recebendo ao nascer, o nome de Jesus.

[1] Belém seria a cidade natal do Messias (v.2); isto se cumpriu literalmente em Mateus 2:1.
O Messias viria de Judá (v.2; Gn 49.10); isto também se cumpriu literalmente (Mt 1.1-18; Lc 3.23-38; Hb 7.14; AP 5.5).
Cristo será Governador eterno de Israel e de todas as outras nações (v.2, Is 9.6.7; Ez 43.7; Dn 7.13,14, e etc.).
A pessoa que nasceria em Belém, da tribo de Judá, da nação de Israel, seria Deus – um ser eterno (Jô 1.1-3,14; Hb 1.8; AP 1.8). Como homem, Ele teve um começo, foi gerado e passou a existir; mas como Deus, Ele não teve começo, não foi gerado e não veio a ser. – Fonte: Bíblia de Estudo Dake - Ed. Atos – 2010 – p.1634
[2] Oportunidade, tempo oportuno. Fonte: Dicionário Online
[3] O Papa criador do calendário cristão foi Gregório XIII. (fonte: http://historiageraledobrasil.blogspot.com/2007/12/o-surgimento-do-calendrio-cristo.html, acessado em 15/11/2011 às 16h30min
[4] ... Ele reinou sobre toda essa região, até sua morte em 4 a.C. como déspota absoluto e vassalo fiel de Augusto – Ver Koester, Helmut – Introdução ao Novo Testamento I – Ed. Paulus. p. 392
[5] Ver também nota de rodapé 11
[6] Entre os romanos os festivais eram muito populares. O período marcava a Saturnália, em homenagem ao deus Saturno. O deus persa Mitra, também cultuado por muitos romanos, teria nascido durante o solstício. Divindades ligadas ao Sol em geral eram celebradas no solstício também.
[7] A religião predominante na Armênia é o cristianismo. As origens da comunidade cristã armênia remontam ao século I. De acordo com a tradição, a Igreja Armênia foi fundada por dois dos doze apóstolos de Cristo, São Judas Tadeu e São Bartolomeu, que pregaram o cristianismo na Armênia entre os anos de 40 e 60 d.C. Por causa destes apóstolos fundadores, o nome oficial da Igreja nacional da Armênia é "Igreja Apostólica Armênia". Fonte: Wikipédia – acessada em 15/11/2011 às 18h17min
[8] No grego bíblico, o termo não implica necessariamente a existência de irmãos mais novos, mas sublinha a dignidade e os direitos da criança.
[9] Em vez de albergue (pandocheion, Lc 10,34), a palavra grega Katalyma pode designar uma sala(1Sm 1,18; 9.22; 11p), onde morava a família de José. Se este possuía seu domicílio em Belém, explica-se melhor que ali tenha voltado para o recenseamento, levando também a jovem esposa, que estava grávida.
O presépio, manjedoura de animais, estava colocado certamente numa parede do pobre alojamento, tão superlotado, que não pode encontrar lugar melhor que este para deitar a criança. Uma lenda piedosa guarneceu esta manjedoura com dois animais (cf. Hab 3,2+; Is ,3).
[10] Esta expressão aparece com letra minúscula nas traduções Almeida. Acredito que seja para dar embasamento à doutrina de que Anjo do Senhor (?), seja o próprio Jesus pré-encarnado [aparecendo em algumas passagens do AT], o que particularmente eu considero como “equívoco”. Acredito que este anjo pode ser algum anjo de patente maior, ou outra forma de manifestação teofânica do próprio Yahweh
[11] É ele, pois, o Messias esperado; mas será “Senhor”: título que o AT ciosamente reservava para Deus. – Fonte: Bíblia de Jerusalém – Ed. Paulus – 2008 p.1790
[12] Para maiores detalhes, pesquisar sobre Soteriologia ou Doutrina da Salvação
Em Cristo
Eduardo
















































































2 de dezembro de 2011

PL 122 está de volta: e agora? Como ficará a constituição brasileira em relação ao homossexualismo?

 

O PL 122 será, finalmente, votado no Senado Federal, na próxima quarta-feira (07/12). Ele pode ser definitivamente sepultado ou aprovado. Esse projeto de leié anticonstitucional, isto é, contrário ao direito constitucional da livre expressão do pensamento.

Ao propor a ampliação do leque de crimes de discriminação ou preconceito, o PL 122
contribui para o surgimento de uma super-raça, baseada na orientação sexual. Em outras palavras, discriminação ou preconceito motivados por raça e orientação sexual seriam colocados no mesmo bojo. E isso, sem dúvidas, é uma tentativa de dar, à luz do contexto, aos homossexuais o status de “raça superior”.

Seria a orientação sexual de uma pessoa tão prioritária quanto a sua raça?
 Claro que não! Afinal, as pessoas nascem brancas, negras, etc. Não há comprovação científica de que alguém já nasça homossexual, a despeito de muitos estudiosos simpatizantes do homossexualismo estarem afirmando isso.

As punições para quem “discriminar” alguém por causa de sua orientação sexual, previstas no PL 122, são pesadíssimas. Vejamos uma parte do projeto que afetará diretamente as igrejas evangélicas: “Art. 5º. 
Impedir, recusar ou proibir o ingresso ou a permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao público: Pena: reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos”.

Outro exemplo: “Art. 8ºA. 
Impedir ou restringir a expressão e a manifestação de afetividade em locais públicos ou privados abertos ao público, em virtude das características previstas no art. 1º desta Lei: Pena:reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos”.

Agora, veja isto: “Art. 20º. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero: § 5º 
O disposto neste artigo envolve a prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordemmoral, ética, filosófica ou psicológica”.

Em outras palavras, o simples fato de um escritor evangélico expor o seu pensamento contrário ao homossexualismo já será considerado crime (homofobia), pois a lei, se aprovada, envolverá “a prática de qualquer tipo de ação... filosófica”. Qualquer homossexual terá elementos para processar o escritor tão-somente porque ele discorda, filosoficamente, do homossexualismo.


“Na verdade, que já os
fundamentos se transtornam; que pode fazer o justo?” (Sl 11.3). Além de orarmos, podemos protestar contra o PL 122, enviando e-mails para os senadores que participarão da votação. A despeito de o Senhor Jesus ter previsto que os seus seguidores sofreriam oposição por causa do seu nome, é nosso dever como cidadãos protestar pacificamente contra quaisquer ações contrárias à Constituição Federal, principalmente as que nos afetam diretamente.

Caro internauta, envie e-mails para os senadores e deixe claro por que não concorda com a aprovação do PL 122:

ana.rita@senadora.gov.br;
martasuplicy@senadora.gov.br;
paulopaim@senador.gov.br;
wellington.dias@senador.gov.br;
cristovam@senador.gov.br;
crivella@senador.gov.br;
simon@senador.gov.br;
eduardo.amorim@senador.gov.br;
garibaldi@senador.gov.br;
sergiopetecao@senador.gov.br;
paulodavim@senador.gov.br;
clovis.fecury@senador.gov.br;
mozarildo@senador.gov.br;
gim.argello@senador.gov.br;
magnomalta@senador.gov.br;
marinorbrito@senadora.gov.br.

Em Cristo,

fonte: Blog do Ciro

3 de novembro de 2011

O jejum

Nos dias atuais entre os chamados evangélicos tem sido dada uma ênfase muito grande ao jejum. A prática tornou-se motivo de proclamações em púlpitos ou pessoais e de anúncios em grandes veículos de comunicação que incentivam e conclamam pessoas a dedicarem noites, dias, semanas ou metades de dias ao jejum, comportamento que é sempre apontado como sendo um excelente meio de crescimento espiritual e, principalmente, de aquisição de poder pessoas e benefícios divinos. Tornou-se comum encontrarmos pessoas se vangloriando de serem muito espirituais e, até mesmo mais espirituais que outras pessoas, por praticarem sistematicamente o jejum.
A prática deste tipo de sacrifício pessoal se tornou quase que uma obrigação para quem deseja alcançar algum tipo de bênção. Mas, seria mesmo uma verdade bíblica que o jejum nos possibilita maior espiritualidade, que nos torna mais santos, ou que faz com que Deus ouça melhor nossas petições? Ficar sem ingerir alimentos daria ao servo de Cristo maior poder espiritual? Os cristãos deveriam incentivar tais costumes criando grandes movimentos de jejum nas igrejas? São questões que podem e precisam ser discutidas e esclarecidas à luz dos ensinamentos de Jesus, que é o autor da nossa salvação e o nosso Senhor, e à luz de todo o contexto bíblico.

A ORIGEM DO JEJUM NO ANTIGO TESTAMENTO
Quando Jesus disse “e quando jejuardes”, estava se dirigindo aos seus discípulos, que eram judeus, e estava se referindo a um costume daquele povo que já vinha sendo praticado durante muitos séculos. Não estava ordenando que jejuassem mas estava regulamentando um costume que estava sendo praticado de maneira errada, considerando-se a origem do jejum entre os judeus.
Nas páginas do Velho Testamento não vamos encontrar o jejum com sentido principal de sacrifício pessoal, de penitência. O que vamos encontrar é uma ordem de Deus (e somente uma) para que o povo afligisse a alma em apenas um determinado dia do ano, estabelecido pelo próprio Deus, o da expiação (Lv 16.29,30). A expressão hebraica usada para designar uma atitude que levava ao jejum era `anah nephesh, que significa literalmente afligir a alma(como exemplo ver Salmos 35.13; 69.10).
Na comemoração anual do dia da expiação (Lv 16.29,31; 23.27-32; Nm 29.7), um sacerdote administrava um sacrifício com sentido de expiação pelo povo, para purificação dos pecados. A aflição da alma seria exteriorizada pela não ingestão de alimentos (jejum em hebraico é tsowm, que significa ficar sem comer) e seria a manifestação de profunda tristeza pelo pecado de cada um e também pelo sacrifício do Cordeiro, porquanto o dia da expiação era o dia em que se praticava um sacrifício que simbolizava o sacrifício de Jesus, o Cordeiro de Deus, que haveria de vir como o Messias. Ou seja, ficar sem comer não era um ato religioso em si, porém a conseqüência de um sentimento de profundo pesar pelo sacrifício do Cordeiro e, conseqüentemente, por causa dos próprios pecados.
A INTRODUÇÃO DO JEJUM ENTRE O POVO DE ISRAEL COMO PRÁTICA RELIGIOSA
Até o nono século antes de Cristo o povo de Israel não praticava o jejum como ato religioso. Somente guardava o dia da expiação e, conseqüentemente, manifestava aflição da alma ficando sem alimentação e sem a prática de qualquer tipo de atividade (Nm 29.7).
O primeiro jejum que foi praticado como ato religioso, registrado nas páginas do Antigo Testamento, aconteceu no reinado de Acabe, no reino do Norte, por determinação de sua esposa gentia, pagã, idólatra, inimiga dos profetas de Deus, Jezabel. Diante da sua obstinação em tomar a vinha de Nabote para para que Acabe a pudesse possuir, Jezabel ordenou que fosse proclamado um jejum nacional sob a alegação mentirosa de que Nabote havia blasfemado contra Deus, ordenando que fosse apedrejado depois de ter sido acusado falsamente por dois filhos de Belial (1Rs 21.1-16). Ou seja, a terrível Jezabel foi quem convocou o primeiro jejum do povo de Israel, interligando-o com o nome de Deus como se estivesse praticando um ato de justiça divina, mas que era, na realidade, uma manifestação pecaminosa da sua malignidade.
OUTRAS COMEMORAÇÕES SISTEMÁTICAS DO JEJUM NO ANTIGO TESTAMENTO
Com o mesmo sentido de manifestação da aflição da alma, de profundo entristecimento, o povo judeu (do reino do Sul) passou depois a comemorar permanentemente, por conta própria e sem qualquer mandamento da parte de Deus ou conotação religiosa, mais quatro datas que recordavam quatro calamidades e que lhes causavam profundo sentimento de tristeza. Eram as seguintes datas e os seguintes fatos:
1. No décimo dia do décimo mês do ano
Comemoravam com muito pesar o dia em que o rei da Babilônia, Nabucodonozor, iniciou o cerco contra a cidade de Jerusalém (2Rs 25.1), com a finalidade de derrotar o povo judeu e leva-lo cativo. Para eles representava o início do sofrimento do cativeiro.
2. No nono dia do quarto mês do ano
Dia em que a cidade de Jerusalém foi finalmente tomada por Nabucodonozor (Jr 52.6-11). Se o cerco à cidade fora de muito sofrimento, mais ainda quando o rei da babilônia entrou na cidade, matou a muitos e cegou o rei Zedequias que lhes era muito querido.
3. No sétimo dia do quinto mês do ano
Dia em que foi destruído o templo de Jerusalém pelos babilônicos, comandados pelo rei Nabucodonozor (2Reis 25.8-10).
4. Em um dia não necessariamente determinado, do sétimo mês do ano
Dia em que Gedalias, que fora constituído governador sobre Judá por Nabucodonozor, foi assassinado por outro judeu chamado Ismael (2Rs 25.25; Jr 41.1,2)
Fora essas comemorações regulares de jejum no Velho Testamento, ainda encontramos narrativas de outras comemorações esporádicas (2Cr 20.3; Ed 8.21; Ne 9.1; Es 4.3; Dn 6.18; Jn 3.5), que sempre eram realizadas como manifestação de profundo pesar e aflição da alma, nunca como atos religiosos de santificação e busca de algum tipo de poder.
CARACTERÍSTICAS DO JEJUM (AFLIÇÃO DA ALMA)
PRATICADO NO ANTIGO TESTAMENTO
Analisando estes exemplos de jejum no Antigo Testamento podemos concluir que era uma manifestação de aflição com as seguintes características:
1. O jejum era ser realizado espontaneamente como manifestação de tristeza (Jz 20.26; 2Sm 12.22)
Todo um exército entristeceu-se por uma derrota e manifestou sua tristeza jejuando ; um pai jejuou por entristecer-se com a enfermidade do filho.
2. O jejum podia expressar entristecimento pelo pecado e arrependimento (1Sm 7.6; 1Rs 21.27; Ne 9.1,2)
Estes exemplos se encaixam no sentimento que deveria prevalecer no dia a expiação, quando deveria existir o reconhecimento do pecado e o arrependimento.
3. O jejum expressava extrema dependência de Deus (2Sm 12.16-22)
O jejum não era praticado como elemento eficaz para conferir poder a uma coletividade, nem tampouco, de poder pessoal. Pelo contrário, quem manifestava seu entristecimento através do jejum, manifestava também a sua dependência de Deus (ver também Juízes 20.26).
DEUS CONDENOU O JEJUM PRATICADO COMO ATO RELIGIOSO
Um ato religioso sempre tem como objetivo fazer uma ligação entre o homem e a divindade. Deus sempre buscou o homem e o homem sempre desejou ter algum tipo de comunicação com Deus. Povos sem a crença no Deus único e verdadeiro têm as suas crenças em divindades imaginadas por homens e buscam, através de atos religiosos, uma ligação com suas divindades imaginárias. Quase sempre buscam esta ligação através de sacrifícios pessoais ou de outrem. O jejum é comum na maioria absoluta das manifestações religiosas de povos pagãos como ato de aperfeiçoamento espiritual que possibilitaria o contato com a divindade. O povo de Deus se deixou influenciar pelos costumes de povos pagãos e entrou por caminhos do paganismo, inclusive observando jejuns com a finalidade de fazer com que Deus atendesse às suas necessidades.
As palavras do profeta Isaías (Is 58.3-8) declaram que no seu tempo o povo judeu ainda preservava o conceito do jejum como manifestação de aflição da alma, mas que já praticava o jejum conforme seus próprios interesses (jejuavam e achavam seus próprios contentamentos) e que já praticavam o jejum com a finalidade de forçar uma ação divina segundo seus interesses pessoais (v.3). O jejum já dava margem para contendas e debates, e já dava margem para atos de impiedade, como se fosse veículo eficiente para fazer ouvir a voz diante de Deus (v. 4).
Deus não estabelecera a aflição da alma com nenhum destes propósitos e toda aquela prática era rejeitada por ele (v. 5). O que desejava para o seu povo não eram práticas que o obrigassem a agir, mas que o seu povo se libertasse da impiedade e de todo o jugo, e que praticasse o amor ao irmão pertencente ao mesmo povo de Deus (v. 6,7). O jejum, para Deus, não era simplesmente ficar sem comer, mas fazia parte de toda uma situação espiritual que deveria ser sincera para com Deus e para com o semelhante.
O JEJUM NO NOVO TESTAMENTO
Quando Jesus veio ao mundo, a prática de jejum já estava completamente desvirtuada. Tornara-se uma prática religiosa com um objetivo em si própria, deixando de ser conseqüência de sentimento de entristecimento. Tornara-se uma exigência que, dentro do contexto religioso estabelecido pelos líderes judeus, adquirira um sentido de purificação religiosa, de aperfeiçoamento espiritual e, até mesmo, tornara-se um elemento de exibicionismo pessoal. Foi dentro deste contexto que o Senhor Jesus instruiu seus discípulos a respeito do jejum.
Apesar de ser um costume entre os judeus, não encontramos no Novo Testamento qualquer ordem deixada por Jesus ou seus apóstolos para a prática do jejum. O que encontramos são referências à prática do jejum, como um costume que foi imposto pelos líderes judeus ao povo, de jejuarem no segundo e quinto dias da semana, e referências, também, a jejuns voluntários e individuais (Lc 2.37; Mt 4.1,2; 2Co 11.27) ou a jejuns coletivos (At 13.2; 14.23), mas nunca ordens de Jesus ou seus apóstolos para que os crentes em Cristo jejuassem.
OS ENSINAMENTOS DE JESUS A RESPEITO DO JEJUM
Há algumas palavras proferidas por Jesus quando estava repreendendo seus discípulos por não terem conseguido expulsar uma legião de demônios de uma pessoa, que é sempre utilizada por quem defende a idéia de que Jesus ordenou que o jejum fosse praticado por seus discípulos (Mt 17.21). No entanto, o leitor atencioso e bem intencionado observará que Jesus não estava ordenando a prática do jejum (até mesmo porque se ordenasse teria que definir que casta de demônios era aquela), mas estava apenas fazendo uma declaração específica, diretamente relacionada com aqueles a acontecimentos, em que seus discípulos tentaram expulsar os demônios apenas por disputa de poder com os fariseus (Mr 9.14-18). Uma disputa que demonstrava que os discípulos confiavam em si próprios, talvez por serem discípulos de Jesus.
A declaração de Jesus (não uma ordenança ou um ensinamento), de que aquela casta de demônios só poderia ser expulsa com oração e jejum (é importante observar a seqüência declarada por Jesus) deveu-se exatamente ao fato de os seus discípulos serem homens de pouca fé (Mt 16.20) e de não agir em favor da libertação do rapaz, movidos por um sentimento de tristeza. Para expulsarem os demônios precisavam ter fé em Deus, confiando somente nele - e a oração é a maior manifestação de confiança em Deus (Mt 6.6 e Hb 11.1), e precisavam estar profundamente entristecidos com a situação espiritual e física do rapaz, que era de terrível aprisionamento às trevas. O jejum, no pensamento de Jesus, era conseqüência de profunda tristeza, exatamente como Deus estabelecera no Antigo Testamento. Jesus não pensava como os líderes judeus ou o como o povo judeu pois eles eram marcados por costumes religiosos copiados do paganismo, como vimos anteriormente. Também não pensava como os “cristãos” pensam hoje a respeito do jejum, também marcados por costumes de religiões pagãs. Ele pensava como o Filho de Deus, como o próprio Deus que estabelecera o dia da expiação para o seu povo. Ele manifestou este pensamento quando foi procurado por discípulos de João Batista e, diante da indagação sobre qual seria o motivo de seus discípulos não praticarem o jejum, respondeu com uma alegoria, dizendo que os convidados para uma festa de casamento não poderiam ficar tristes enquanto o noivo estivesse com eles, mas que haveria o tempo em que o noivo lhes seria tirado e que, então, jejuariam (Mt 9.14,15). Observe-se como ele interligou a tristeza ao jejum. Que dúvida pode haver quanto ao fato de que Jesus, ao se referir ao jejum, se referia a entristecimento?
Na realidade, quando Jesus disse que aquela casta de demônios só poderia ser expulsa com oração e jejum, estava dizendo que só seria expulsa se eles tivessem fé em Deus e que a fé fosse manifestada através de oração com profundo amor ao semelhante. Amor que levasse a profunda aflição da alma por causa da situação do rapaz.
É certo, então, que não podemos utilizar este episódio do ministério de Jesus para afirmarmos que ele mandou que seus discípulos jejuassem. Então, o que Jesus realmente ensinou a respeito do jejum? Para compreendermos seus ensinamentos no Sermão do Monte precisamos nos reportar novamente ao texto de Mateus 9.14-17 e observarmos que Jesus, sendo o Filho de Deus, fora enviado como quem participara do estabelecimento do Antigo Concerto em que fora estabelecido o Dia da Expiação, e que fora enviado para estabelecer o Novo Concerto, com o seu sacrifício pessoal, representado no Dia da Expiação com o sacrifício de um cordeiro. Ou seja, em sua mente estava a aflição da alma por causa do Dia da Expiação simbólico do Antigo Testamento e a aflição da alma dos seus discípulos no Dia da Expiação real, o do seu próprio sacrifício, no Novo Testamento.
Quanto ao Novo Testamento ele sabia que a tristeza dos seus discípulos aconteceria no momento em que fosse tirado do meio deles para ser crucificado. Mas, certamente sabia que poderiam alegrar-se novamente por causa da sua ressurreição. Certamente que não caberia a aflição da alma para os seus discípulos, ao longo do período do Novo Concerto por causa da morte do Cordeiro de Deus, pois Ele ressuscitou e seu sacrifício nunca mais se repetirá. Também não caberia a aflição da alma pela ausência do Filho de Deus, pois ele prometeu que estaria com seus discípulos “todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.20). O jejum, a aflição da alma, fazia parte do Antigo Concerto (tecido velho e odre velho) e não poderia fazer parte do Novo Concerto (tecido novo e odre novo). A aflição da alma era conseqüência de diversos atos de sacrifício que se repetiam no Antigo Concerto e aconteceria somente uma vez, como conseqüência de um único sacrifício no Novo Concerto. O vinho novo era o sacrifício definitivo do Filho de Deus e este sacrifício, como ato realizado, histórico, nunca poderia fazer parte do Antigo Concerto. Quem tentar fazer assim estará deteriorando, para si, o sacrifício de Jesus Cristo.
Sendo assim, podemos dizer que, mediante os ensinamentos de Jesus posteriores ao Sermão do Monte, é certo que ele não pensava no jejum como uma prática religiosa para conferir poder, santidade ou capacitação espiritual aos seus discípulos; que seus discípulos que andaram como ele e aprenderam diretamente dele, não jejuavam (Mt 9.14); e que ele nunca requereu ou requereria dos seus discípulos a prática do jejum, mesmo como aflição da alma. Esta é a nossa base para analisarmos o que Jesus ensinou no Sermão do Monte a respeito do jejum.
OS ENSINAMENTOS DE JESUS A RESPEITO DO JEJUM NO SERMÃO DO MONTE
Primeiramente precisamos observar que Jesus estava ensinando a respeito do jejum aos seus discípulos, que eram judeus. Como não poderia deixar de ser, Jesus considerou que seus ouvintes praticavam o jejum por serem judeus e por estarem, ainda, no período do Antigo Testamento. O Novo Testamento só seria estabelecido quando ele fosse crucificado, derramando o seu sangue, abrindo caminho a todos os que cressem nele para entrar na presença de Deus. Até lá, o dia da Expiação deveria ser observado por seus discípulos e, também, a aflição da alma. Sendo assim, tratou de esclarecer o assunto, tirando as tradições e as tendências humanas de suas mentes, restabelecendo o verdadeiro significado do jejum.
1. O jejum não deveria ser um ato superficial e hipócrita – Mt 6.16; Lc 18.9-41
Não deveria ser praticado conforme o modelo dos líderes judeus que gostavam que todos vissem que jejuavam, que fingiam tristeza através de uma aparência forçada, que gostavam de serem vistos como pessoas muito espirituais. O jejum deveria ter o seu sentido original de dependência de Deus, de humilhação perante ele, de aflição da alma e não ser praticado como um ato para o engrandecimento pessoal, de exaltação da religiosidade, ou para forçar Deus a agir em benefício de quem praticava este tipo de penitência.
2. O jejum deveria ser um ato individual e oculto – Mt 6.17,18
Deveria ser uma atitude interior, somente no coração do indivíduo. A expressão “unge a tua cabeça e lava o teu rosto” representa: penteia o teu cabelo e não fiques com o rosto desfigurado, de sofrimento. Jesus foi enfático em dizer: “para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai que está em oculto.” A tristeza pelo próprio pecado, pelo sacrifício de um ser inocente sem pecados, deveria ser algo real no coração do homem temente a Deus, que certamente veria o coração do seu servo.
A conclusão a que chegamos é que o jejum como ritual religioso com a finalidade de aquisição de poder, ou de santificação, ou de purificação espiritual, é um tipo de sacrifício pessoal que não é bíblico. É uma prática penitencial de muitas outras religiões, como por exemplo, do induísmo, do budismo, do jainismo, do catolicismo etc, e que sempre visam a purificação do espírito ou a conquista da salvação, e que não deve ser imitada pelo discípulo de Jesus Cristo, sob pena de substituir a confiança em Deus e, conseqüentemente, a dependência a ele através da oração e confiança na sua Palavra, por uma confiança em atos pessoais que nem mesmo dependem de fé, mas apenas de um esforço pessoal em cumprir determinados sacrifícios.
Jesus já foi sacrificado. Entregou-se por todos quantos crerem nele como Salvador, em um sacrifício só e que foi bastante e suficiente para nos purificar de todo o pecado. Um sacrifício que foi perfeito e, por isso, eficiente para nos conceder a vida eterna e um sacrifício que foi eficiente para nos trazer comunhão com Deus, o Pai. Ele prometeu que estaria conosco todos os dias, até o final dos tempos. Se ficarmos a jejuar, estaremos substituindo o sacrifício de Jesus por sacrifícios pessoais e estaremos indiferentes à sua presença em nossas vidas. Presença que nos concede a paz perfeita e a alegria da salvação.

















































1 de outubro de 2011

Manual de demonologia

Pessoal, acaba de ser lançado o Manual de demonologia – escrito pelo teólogo e professor Carlos Augusto Vailatti.

Já tive a oportunidade de lê-lo ainda quando ele nem havia sido editado, e ressalto a suma importância que esta obra tem para teólogos, pastores, acadêmicos em teologia, e ao público geral, que se interessa por um aprofundamento sobre a demonologia, tema que vem sendo esquecido a cada dia por nossas igrejas e escolas.

Trecho da apresentação do livro, feita pelo editor, Eduardo de Proença:
Neste livro, o autor com grande profundidade pesquisa sobre a figura de Satanás na tradição bíblica vetero e neotestamentária. Valendo-se do recurso de conhecer as línguas bíblicas, Carlos Vailatti passeia com maestria e disciplina pelas escrituras sagradas. Em um primeiro momento faz uma verdadeira “varredura” pela terminologia bíblica no que se refere ao mal, desde seres míticos e maléficos, até nas tradições extra-bíblicas Vailatti verdadeiramente se esmera.
Independentemente da posição teológica do leitor, certamente se renderá ao fôlego de pesquisador demonstrado pelo autor, e pela sua honestidade acadêmica e respeito as tradições cristãs ainda presentes na maioria das igrejas.
Em uma segunda parte do livro faz uma investigação sobre a narrativa evangélica de Marcos sobre o jovem possesso, o Gadareno, que nele habitava legiões de demônios. Com cuidado, minúcia e com grande organização e didática convida a você a compreender esse emblemático texto de Marcos.
Se o diabo existe ou não creio não ser o objetivo de Vailatti demonstrar. Porque como diria Santa Teresa de Ávila “se Satanás pudesse amar, deixaria de ser mau”.
O livro foi lançado hoje no IBES – Instituto Betel de Ensino Superior




31 de agosto de 2011

Modismos teológicos de nossos dias e seus contrassensos à luz da Bíblia

Hoje, falaremos sobre os modismos da guerra espiritual, dos jogos de azar na igreja, do monofisismo e das corrupções da música na igreja.
Guerra espiritual
Também é conhecida como "batalha espiritual". O que muitos estão chamando de guerra espiritual é um logro do inimigo, e não a verdadeira guerra ou luta espiritual de que fala Paulo em Efésios 6.10-18, e muitas outras passagens correlatas da Bíblia.
De nada adianta o uso de uniformes especiais, palavras de ordem (como “queimar” ou “pisar” Satanás e seus domônios), certos cânticos repetidos indefinidamente, jejuns encomendados, locais especiais de reuniões (como orar em montes etc), convidados especiais para falar, barulho ensurdecedor e gritos estridentes, se não estivermos biblicamente em Cristo, segundo a Palavra de Deus, e no poder do Espírito Santo (Jo 15.7).
Quanto aos demônios, o que os inovadores da doutrina estão a fazer é:
a) Impor as mãos sobre os endemoninhados (!?!)
b) Chamar endemoninhados à frente (!?!)
c) Dialogar com demônios em público (!?!)
O demônio pode até sair, mas volta; ou entra noutra pessoa, ou ainda entra em muitas outras pessoas.
Qual a razão desses inovadores quererem dialogar com demônios? Para ouvirem confissões tétricas de demônios (ou supostos demônios). Isso equivale a divulgar os demônios, e é isso o que eles querem.
Jesus mandou-nos chamar os pecadores e expulsar os demônios. Hoje estamos vendo certos pregadores chamando os demônios e expulsando os pecadores. Sim, porque estes saem das reuniões confusos, sem saber se estavam num culto legítimo ao Senhor ou numa sessão espírita.
A chamada guerra espiritual, como está no momento caracterizada, é uma falsa operação divina. Há libertação de demônios, profecias e milagres falsos.
Sobre falsas profecias, o Mestre já nos advertiu. Em Mateus 7.22-23, encontramos Jesus fazendo referência a pessoas que não serão aceitas pelo Senhor apesar de colocarem: “Não profetizamos nós em teu nome?” Isso também tem a ver com falsos pregadores. Sobre falsa libertação de demônios, no mesmo texto encontramos: “E em teu nome não expulsamos demônios?” A resposta do Senhor foi a mesma (Mt 7.23). O evangelista deve atentar para isso. Sobre falsos milagres, no mesma porção bíblica temos: “E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” A resposta foi idêntica (Mt 7.23). Sobre isso podemos também ver 2 Tessalonicenses 2.9-11 e Apocalipse 13.13-14.
Jogo de azar
Esse tipo de jogo é assim chamado porque depende do acaso, da sorte. Um só ganha e todos os demais perdem. Tal princípio, conceito ou procedimento não tem qualquer aval das Escrituras. É o caso da loteria, jogo do bicho, roleta, jogo de cartas, apostas, rifas e raspadinhas.
Os princípios bíblicos de meio de vida e de trabalho, em geral, conflitam abertamente com o jogo (Gn 3.19; Ex 20.9; Lv 19.13; Pv 10.22; Jr 22.13; 1Co 6.12 e 10.31; Mt 20.2; 2Ts 3.8-12 e 1Ts 5.22).
Um verdadeiro crente foge de qualquer tipo de jogo.
O monofisismo modificado da atualidade
Isso diz respeito a Jesus, sua divindade e humildade; a natureza divina e a humana perfeita do Senhor.
Falsas doutrinas nesse particular vêm dos primórdios do cristianismo: arianismo, eustaquianismo, nestorianismo etc.
Dizem os falsificadores da doutrina, inclusive alguns professores de seminários teológicos, que “quando Jesus tomou forma humana e encarnou-se, deixou sua natureza divina no céu; e quando Ele voltou para o céu, deixou aqui a sua natureza humana”.
Na sua encarnação, Cristo, sendo Deus, tornou-se “Filho do Homem” (como Ele costumava chamar-se a si mesmo). No glorioso e grandioso mistério da sua encarnação, Ele limitou-se voluntariamente de parte de seus atributos divinos, mas não da sua natureza divina, Nele imanente como Deus. Assim, Ele era (e continua a ser) o perfeito Filho de Deus e o perfeito “Filho do Homem” (Is 9.6; Mt 28.19; Jo 1.1,14; 3.13; 14.9 e 10.30; Lc 24.39-40; Rm 9.5; Cl 2.9; 1Tm 2.5; Hb 1.8 e Ap 1.13,18). É a kenosis de Jesus, conforme Filipenses 2.7-8, expressão grega traduzida em português por “aniquilou-se a si mesmo” e “humilhou-se a sim mesmo”.
A autolimitação voluntária de Jesus, ao tomar corpo humano na sua encarnação, é um dos grandes mistérios da revelação divina, que só compreendemos em parte (1Tm 3.16).
Corrupção da música na igreja
A oração e o ministério da Palavra foram praticamente substituídos hoje pelo cântico nas igrejas. O ministério da Palavra a que me refiro é a pregação e  o ensino da Palavra.
Os neopentecostais e os “renovados” ensinam que “a mais elevada forma de oração é o louvor”. Isso é  falsificação da doutrina. Como resultado, as antigas vigílias de oração da Assembléia de Deus foram transformadas em “vigílias de louvor”, que no final das contas nem é vigília e nem louvor, no sentido estrito destes termos.
Qual é a procedência dessas músicas? A maioria esmagadora vem dos neopentecostais (alheios à doutrina bíblica). Também vêm do movimento espúrio “Voz da Verdade”, que, entre outras coisas, é unicista; dos mórmons, que são heréticos; dos carismáticos, que são “joio no meio do trigo”, e dos adventistas, que são exímios torcedores da Palavra de Deus.
A corrupção da música sacra em nosso meio ocorre por não haver seleção, critérios de aceitação e nem aferição com a Palavra de Deus, como fizeram os bereanos em Atos 17.11, “examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”. Vejamos as manifestações dessa corrução:
a) Corrução na letra das canções: A letra, via de regra, não tem Bíblia nem mensagem para a alma. Também não tem métrica, e a letra é geralmente péssima.
b) Corrução na melodia da canção: Não tem seqüência melódica, frase musical e tema musical. São idênticas às melodias do mundo, sem nada de solene.
c) Corrupção no ritmo da canção: Ritmo irreverente, puramente secular, coisa que o mundo faz muito melhor do que a igreja quando esta o copia. Ritmo ou cadência é o movimento interativo dos sons.
d) Corrupção no andamento da canção: Andamento é a rapidez da execução dos sons na música. O andamento nessas músicas, via de regra, não tem nada de espiritual, nem solene, nem sacro.
e) Os autores dessas músicas: Devem ser adeptos desse evangelho frouxo que hoje surge por toda parte, que fala em “liberdade” quando eles mesmos são escravos, como diz a Bíblia em 2 Pedro 2.19. Se esses autores fossem realmente homens e mulheres de Deus vivendo e andando no seu temor, jamais fariam tantos desvios nas músicas que produzem.
f) O efeito dessas músicas: São espiritualmente negativas. Seu efeito é nulo. São músicas que, cantadas, tocadas e recitadas, não elevam a alma a Deus, não predispõem o espírito a adorar a Deus, não inspiram, não preparam espiritualmente o ambiente à manifestação divina, não levam o povo salvo a glorificar a Deus “em espírito e em verdade”.

Por Pr. Antônio Gilberto

21 de agosto de 2011

Onde devo congregar? Ainda existe igreja saudável?

 

Em meio a tanta confusão nos arraiais evangélicos, muitos preferem servir a Cristo em seus próprios lares, engrossando assim a fileira da igreja que mais cresce no Brasil e no Mundo: a dos desigrejados. Seu desapontamento com a igreja instituída fez com que agissem como Elias, o profeta solitário que cansou-se de nadar contra maré de corrupção que abatera sobre Israel, planejando terminar seus dias confinado numa caverna. O que ele não sabia é que Deus havia preservado sete mil pares de joelhos que não haviam se dobrado a Baal.

Basta visitar alguns dos milhares de blogs que povoam a blogosfera cristã para certificar-se de que ainda há esperança. A blogosfera transformou-se numa enorme congregação virtual. Gente oriunda de todos os setores da igreja cristã tem a liberdade de expor seu descontentamento com o rumo que a igreja tem tomado.

Como pastor, preocupo-me com aqueles que simplesmente desistiram de congregar e se alimentam unicamente do que é postado em nossos blogs. Precisamos muito mais do que isso. Precisamos construir relacionamentos sólidos, submeter-nos a uma liderança madura e respaldada na Palavra, encaminhar nossos filhos a um ambiente saudável, sentir-nos pertencentes a uma família espiritual, e mesmo, contribuir financeiramente com projetos que visem a glória de Deus e o bem-comum.

Daí surgem algumas questões pertinentes:

Poderíamos congregar numa igreja que não fôssemos capazes de recomendar a outros? Sentir-nos-íamos constrangidos e desconfortáveis em trazer nossos amigos e parentes a um culto?

Que tipo de igreja proveria um ambiente seguro e saudável para os nossos filhos? Que igreja poderia ajudar-nos na formação do caráter deles sem intrometer-se em assuntos domésticos e particulares, e sem expor nossa autoridade como pais? Há igrejas onde o pastor se vê no direito de estabelecer regras nos lares de seus congregados. Filhos crescem sem saber se devem honrar a seus pais ou obedecer cegamente a seus líderes espirituais. Imagine um pastor que exija ser chamado de “pai”, ou ser tratado como tal. Ou ainda: o desconforto de um pai cuja autoridade é rivalizada pela autoridade pastoral.

A que tipo de liderança deveríamos nos submeter? Um pastor que não é respaldado por sua própria família (pais, irmãos, filhos, esposa, etc.), estaria apto a mentorear outras famílias? E quando todos percebem que entre ele e a esposa não há amor? Você se submeteria a um pastor cujo casamento não passasse de um embuste? Que tipo de tratamento ele dá aos filhos? A famíla pastoral deve ser referência. Não digo que deva ser perfeita, mas pelo menos saudável.

Seria sábio submeter-nos a uma liderança susceptível a todo tipo de modismo doutrinário? Hoje prega uma coisa, amanhã prega outra totalmente difirente? Seria correto submeter-nos a uma liderança emocionalmente desequilibrada? Como nossos pastores reagem ante a uma crise? Como reagem quando são elogiados? E quando são criticados? Costumam trazer problemas de casa para o púlpito, ou vice-versa? Gostam de apelar ao emocionalismo? Gostam de tornar as pessoas dependentes deles?

Seria sábio submeter-nos a uma liderança antiética? Quem suporta um pastor que só sabe falar mal dos que o antecederam? Você se submeteria a um pastor que sequer sabe ser grato a quem o instituiu? E mais: com quem ele anda? Quem são seus amigos? Quem freqüenta sua casa? Não me refiro a amizade com pessoas não cristãs, e sim a amizade com falsos cristãos, lobos infiltrados no meio do rebanho para causar-lhe dano.

Como acolhem as pessoas que chegam a igreja? Dão o mesmo tratamento independente da posição social? Desprezam os veteranos para dar maior atenção aos novatos? Como são tratados os anciãos? Lembre-se que um dia você será um.

E quanto às contribuições? Seria sábio contribuir numa igreja onde a liderança é pródiga? É correto o pastor fazer compromissos maiores do que os que a igreja possa arcar e depois escapelar os irmãos na hora das ofertas? Como as ofertas são pedidas? Há muita apelação, manipulação e pressão psicológica? E como elas são administradas? A quem o pastor presta contas? Há uma instância acima dele? O que entra na igreja é usado exclusivamente ali ou parte é destinada a trabalhos missionários? Há projetos sociais relevantes? Que resultado esses projetos têm alcançado?

É correto usar o dinheiro da igreja para pagar cachês a cantores e bandas convidadas?

E se o pastor eventualmente cometer um deslize grave, como adultério ou roubo,quem poderá admoestá-lo, ou mesmo puni-lo?

Como a igreja lida com questões políticas? É certo a liderança apontar em quem os membros devem votar? É correto levar candidatos para o púlpito e ceder-lhes a palavra? Há algum trabalho de conscientização para que as pessoas exerçam sua cidadania cabalmente, sem interferência?

Quais os critérios usados pelo pastor para ceder seu púlpito a outro pregador?

Olhe para as pessoas à sua volta, principalmente para as que chegaram antes de você e pergunte-se: Elas são hoje pessoas melhores do que eram anos atrás? As pessoas que congregam ali estão amadurecendo na fé? Lembre-se: elas podem ser você amanhã.

E quanto ao culto? Percebe-se a presença de Deus naquele lugar? Há reverência ou simplesmente oba-oba? As pessoas que freqüentam estão realmente interessadas na Palavra ou só aparecem quando há algum evento ou convidado especial?

Essas são apenas algumas questões que precisam ser consideradas. Se você tiver alguma outra questão igualmente relevante, por favor, poste em seu comentário.

O que não podemos é desistir da igreja de Cristo, seja reunida de maneira formal ou informal. Não basta criticar, urge encontrarmos saída para resgatá-la deste estado calamitoso em que chegou

Créditos: Blog do Pr. Hermes Fernandes

Evangélicos não praticantes? Sim – já existe!

Pesquisas indicam o aumento da migração religiosa entre os brasileiros, o surgimento dos evangélicos não praticantes e o crescimento dos adeptos ao islã

 
Conheça em vídeo a história de Silvio Garcia, que era pastor da igreja evangélica e hoje é pai de santo :

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Acaba de nascer no País uma nova categoria religiosa, a dos evangélicos não praticantes. São os fiéis que creem, mas não pertencem a nenhuma denominação. O surgimento dela já era aguardado, uma vez que os católicos, ainda maioria, perdem espaço a cada ano para o conglomerado formado por protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais. Sendo assim, é cada vez maior o número de brasileiros que nascem em berço evangélico – e, como muitos católicos, não praticam sua fé. Dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelaram, na semana passada, que evangélicos de origem que não mantêm vínculos com a crença saltaram, em seis anos, de insignificantes 0,7% para 2,9%. Em números absolutos, são quatro milhões de brasileiros a mais nessa condição. Essa é uma das constatações que estatísticos e pesquisadores estão produzindo recentemente, às quais ISTOÉ teve acesso, formando um novo panorama religioso no País. 

Isso só é possível porque o universo espiritual está tomado por gente que constrói a sua fé sem seguir a cartilha de uma denominação. Se outrora o padre ou o pastor produziam sentido à vida das pessoas de muitas comunidades, atualmente celebridades, empresários e esportistas, só para citar três exemplos, dividem esse espaço com essas lideranças. Assim, muitas vezes, os fiéis interpretam a sua trajetória e o mundo que os cerca de uma maneira pessoal, sem se valer da orientação religiosa. Esse fenômeno, conhecido como secularização, revelou o enfraquecimento da transmissão das tradições, implicou a proliferação de igrejas e fez nascer a migração religiosa, uma prática presente até mesmo entre os que se dizem sem religião (ateus, agnósticos e os que creem em algo, mas não participam de nenhum grupo religioso). É muito provável, portanto, que os evangélicos pesquisados pelo IBGE que se disseram desvinculados da sua instituição estejam, como muitos brasileiros, experimentando outras crenças.

É cada vez maior a circulação de um fiel por diferentes denominações – ao mesmo tempo que decresce a lealdade a uma única instituição religiosa. Em 2006, um levantamento feito pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) e organizado pela especialista em sociologia da religião Sílvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), verificou que cerca de um quarto dos 2.870 entrevistados já havia trocado de crença. Outro estudo, do ano passado, produzido pela professora Sandra Duarte de Souza, de ciências sociais e religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), para seu trabalho de pós-doutorado na Universidade de Campinas (Unicamp), revelou que 53% das pessoas (o universo pesquisado foi de 433 evangélicos) já haviam participado de outros grupos religiosos.

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ALÁ
Nogueira, muçulmano há um ano: no Rio, os convertidos
saltaram de 15% da comunidade para 85% em 12 anos

“Os indivíduos estão numa fase de experimentação do religioso, seja ele institucionalizado ou não, e, nesse sentido, o desafio das igrejas estabelecidas é maior porque a pessoa pode escolher uma religião hoje e outra amanhã”, afirma Sílvia, da UFRRJ. “Os vínculos são mais frouxos, o que exige das instituições maior oferta de sentido para o fiel aderir a elas e permanecer. É tempo de mobilidade religiosa e pouca permanência.” Transitar por diferentes crenças é algo que já ocorre há algum tempo. A intensificação dessa prática, porém, tem produzido novos retratos. Denominadores comuns do mapa da circulação da fé pregam que católicos se tornam evangélicos ou espíritas, assim como pentecostais e neopentecostais recebem fiéis de religiões afro-brasileiras e do protestantismo histórico. Estudos recentes revelam também que o caminho contrário a essas peregrinações já é uma realidade. 

Em sua dissertação de mestrado sobre as motivações de gênero para o trânsito de pentecostais para igrejas metodistas, defendida na Umesp, a psicóloga Patrícia Cristina da Silva Souza Alves verificou, depois de entrevistar 193 protestantes históricos, que 16,5% eram oriundos de igrejas pentecostais. Essa proporção era de 0,6% (27 vezes menor) em 1998, como consta no artigo “Trânsito religioso no Brasil”, produzido pelos pesquisadores Paula Montero e Ronaldo de Almeida, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Para Patrícia, o momento econômico do Brasil, que registra baixos índices de desemprego e ascensão socioeconômica da população, reduz a necessidade da bênção material, um dos principais chamarizes de uma parcela do pentecostalismo. “Por outro lado, desperta o olhar para valores inerentes ao cristianismo, como a ética e a moral cristã, bastante difundidas entre os protestantes históricos”, afirma.

Em busca desses valores, o serralheiro paraibano Marcos Aurélio Barbosa, 37 anos, passou a frequentar a Igreja Metodista há um ano e meio. Segundo ele, nela o culto é ofertado a Deus e não aos fiéis, como acontecia na pentecostal Assembleia de Deus, a instituição da qual Barbosa foi devoto por 16 anos, sendo sete como presbítero. O serralheiro cumpria à risca os rígidos usos e costumes impostos pela denominação. “Eu não vestia bermuda nem dormia sem camisa, não tinha tevê em casa, não bebia vinho, não ia ao cinema nem à praia porque era pecado”, conta. Com o tempo, o paraibano passou a questionar essas proibições e acabou migrando. “Na Metodista encontrei um Deus que perdoa, não um justiceiro.”

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AMÉM
É cada vez mais comum ex-pentecostais, como o atual metodista Barbosa,
que foi pastor da Assembleia de Deus (acima), aderirem às protestantes históricas

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A teóloga Lídia Maria de Lima irá defender até o final do ano uma dissertação de mestrado sobre o trânsito de evangélicos para religiões afro-brasileiras. A pesquisadora já entrevistou 60 umbandistas e candomblecistas e verificou que 35% deles eram evangélicos antes de entrar para os cultos afros. Preterir as denominações cristãs por religiões de origem africana é outro tipo de migração até então pouco comum. Não é, porém, uma movimentação tão traumática, uma vez que o currículo religioso dos ex-evangélicos convertidos à umbanda ou ao candomblé revela, quase sempre, passagens por grupos de matriz africana em algum momento de suas vidas. Pai de santo há dois anos, o contador Silvio Garcia, 52 anos, tem a ficha religiosa marcada por cinco denominações distintas – e a umbanda é uma delas. Foi aos 14 anos, frequentando reuniões na casa de uma vizinha, que Garcia, batizado na Igreja Católica, aprendeu as magias da umbanda. Nessa época, também era assíduo frequentador de centros espíritas. Aos 30, ele passou a cursar uma faculdade de teologia cristã e, com o diploma a tiracolo, tornou-se presbítero de uma igreja protestante. Um ano depois, migrou para uma pentecostal, onde pastoreou fiéis por seis anos. “Mas essas igrejas comercializam a figura de Cristo e eu não me sentia feliz com a minha fé”, diz. 

A teóloga Lídia sugere que os sistemas simbólicos das religiões evangélica e afro-brasileira têm favorecido a circulação de fiéis da primeira para a segunda. “Há uma singularidade de ritos, como o fenômeno do transe. Um dos entrevistados me disse que muito do que presenciava na Igreja Universal (do Reino de Deus) ele encontrou na umbanda”, diz. Em suas pesquisas, fiéis do sexo feminino foram as que mais cometeram infidelidade religiosa (67%). Os motivos que levam homens e mulheres a migrar de religião (leia quadro à pág. 60) foram investigados pela professora Sandra, da Umesp. Em outubro, suas conclusões serão publicadas em “Filosofia do Gênero em Face da Teologia: Espelho do Passado e do Presente em Perspectiva do Amanhã” (Editora Champanhat).

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SALVAÇÃO
Homens pensam em si quando buscam uma nova crença:
Higuti, pastor da Bola de Neve, queria se livrar das drogas

Uma diferença básica entre os sexos é que as mulheres mudam de religião em busca de graça para quem está a sua volta (a cura para filhos e maridos doentes ou a recuperação do casamento, por exemplo). Já os homens são motivados por problemas de fundo individual. Assim ocorreu com o empresário paulista Roberto Higuti, 45 anos, que se tornou evangélico para afastar o consumo e o tráfico de drogas de sua vida. Católico na infância, budista e adepto da Igreja Messiânica e da Seicho-No-Ie na adolescência, Higuti saiu de casa aos 15 anos e se tornou um fiel seguidor do mundo do crime. Sua relação com as drogas foi pontuada por internação em hospital psiquiátrico, prisão e duas tentativas de suicídio. Certo dia, cansado da falta de perspectivas, viu uma marca de cruz na parede, ajoelhou-se e disse: “Jesus, se tu existes mesmo, me tira dessa vida maldita.” Há cinco anos, o empresário é pastor da neopentecostal Igreja Bola de Neve, onde ministra dois cultos por semana. “Quero, agora, ganhar almas para o Senhor”, diz. 

Antes de se fixar na Bola de Neve, Higuti experimentou outras quatro denominações evangélicas. Mobilidades intraevangélicas como as dele ocorrem com aproximadamente 40% dos adeptos de igrejas pentecostais e neopentecostais, segundo a especialista em sociologia da religião Sílvia, da UFRRJ. Os neopentecostais, porém, possuem uma particularidade. Seus fiéis trocam de igreja como quem descarta uma roupa velha: porque ela não serve mais. São a homogeneização da oferta religiosa e a maior visibilidade de algumas denominações que produzem esse efeito. “Esse grupo, antigamente, era o tal receptor universal de fiéis, para onde iam todas as religiões. Hoje, a singularidade dele é o fato de receber membros de outras neopentecostais”, diz Sandra, da Umesp. “Quanto mais acirrada a concorrência, maior a migração.” A exposição na mídia, fundamentalmente na tevê, é a principal estratégia dos neopentecostais para roubar adeptos da concorrente direta. E cada vez mais as pessoas estabelecem uma relação utilitária com a religião. De acordo com a pesquisadora Sandra, se não há o retorno (material, na maioria das vezes), o fiel procura outra prestadora de serviço religioso. Estima-se, por exemplo, que 70% dos atuais adeptos da Igreja Mundial – uma dissidente da Universal – tenham migrado para lá vindos da denominação de Edir Macedo. “Entre os neopentecostais não se busca mais um líder religioso, mas um mago que resolva tudo num estalar de dedos”, diz Sandra. “Essa magia faz sucesso, mas tem vida curta, uma vez que o fiel se afasta, caso não encontre logo o que quer.”

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SEM LAÇOS
Lucina não segue nenhum credo, mas quando quer alcançar uma graça
procura algum serviço religioso: 30% fazem o mesmo anualmente

Cansada de pular de uma crença para outra, a artesã paulista Lucina Alves, 57 anos, não sente mais necessidade de pertencer a uma igreja. Há oito anos, ela diz ser do grupo dos sem-religião. No entanto, recorre a ritos de fé, principalmente católicos, espíritas e da Seicho-No-Ie, sempre que sente vontade de zelar pelo bem-estar de alguém. “Há um mês, fui até uma benzedeira ligada ao espiritismo para ajudar meu filho que passava por problemas conjugais”, diz. Dados do artigo “Trânsito religioso no Brasil” revelaram que 30,7% das pessoas que se encontram na categoria dos sem-religião frequentam algum serviço religioso anualmente e 20,3% fazem o mesmo mais de uma vez por mês. “Já participei de reuniões evangélicas de orações em casa de familiares”, conta Lucina. 

A artesã não cultua santos, crê em Deus, Jesus Cristo e acende vela para anjos. No campo das ciências da religião, manifestações espirituais como as dela são recentes e vêm sendo tema de novos estudos. A migração de brasileiros para o islã é outro fenômeno que cresce no País. O número de convertidos na comunidade muçulmana do Rio de Janeiro, por exemplo, saltou de 15% em 1997 para 85% em 2009. Ex-umbandista que hoje atende por Ahmad Abdul-Haqq, o policial militar paulista Mario Alves da Silva Filho tem um inventário religioso de dar inveja. Batizado no catolicismo, aos 9 anos estreou na umbanda em uma gira de caboclo e baianos. Um ano depois, juntando moedas que ganhava dos pais, comprou seu primeiro livro, sobre bruxaria. Aos 14, passou a frequentar a Federação Espírita paulista, onde fez cursos para trabalhar com incorporações e psicografia. Aos 17 anos, trabalhou em ordens esotéricas ao mesmo tempo que dava expediente na umbanda. O policial, mestrando em sociologia da religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), decidiu se converter ao islã quando fazia um retiro de padres jesuítas. Em uma noite, sonhou com um árabe que o indicava o islã como resposta para suas dúvidas. Aos 29 anos, ele entrou em uma mesquita e disse que queria ser muçulmano. Saiu dela batizado e, desde então, faz cinco orações e repete frases do “Alcorão” diariamente. “Descobri que sou uma criatura de Deus e voltarei ao seio do Criador.”

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MECA
Migração atípica: o policial Filho, de currículo
religioso extenso, trocou  a umbanda pelo islã

Faz dez anos que o número de convertidos ao islã no País aumentou. E não são os atentados às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, que marcam esse novo fluxo, mas a novela “O Clone”, da Globo. Foi ela que “introduziu no imaginário cultural brasileiro imagens bastante positivas dos muçulmanos como pessoas alegres e devotadas à família”, como defende Paulo Hilu da Rocha Pinto em “Islã: Religião e Civilização – Uma Abordagem Antropológica” (Editora Santuário), de 2010. “De lá para cá, a conversão de brasileiros cresceu 25%. Em Salvador, 70% da comunidade é de convertidos”, diz a antropóloga Francirosy Ferreira, pesquisadora de comunidades muçulmanas da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto.

Assistente financeiro, o paulista Luan Nogueira, 23 anos, tornou-se muçulmano há um ano. Por indicação de um amigo, passou a pesquisar o islã e descobriu que o discurso estigmatizado criado após o 11 de setembro, que relacionava a religião à intolerância e à violência, não era verdadeiro. “Encontrei na mesquita e no “Alcorão” a ética da boa conduta”, diz. “Me sinto mais próximo de Deus no islã.” Para o professor Frank Usarski, do Centro de Estudo de Religiões Alternativas de Origem Oriental, da PUC-SP, o atrativo do islã é o fato de não ter perdido, diferentemente de outras religiões, a competência da interpretação completa da vida. “Ele oferece um guarda-chuva de referências para esferas como economia e ciência”, diz Usarski.

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ORIXÁS
Ex-liderança evangélica, Garcia largou os cultos cristãos (abaixo) para se tornar pai de santo

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Segundo o escritor Pinto, que também é professor de antropologia da religião na Universidade Federal Fluminense, o islã permite aos adeptos uma inserção e compreensão sobre questões atuais, como, por exemplo, a Palestina, a Guerra do Iraque e segurança internacional, para as quais outros sistemas religiosos talvez não deem respostas. “Se a adoção do cristianismo em contextos não europeus do século XIX pôde ser definida com uma conversão à modernidade, a entrada de brasileiros no islã pode ser vista como uma conversão à globalização”, escreve ele, em seu livro.

É cada vez mais comum, no País, fiéis rezando com a cartilha da autonomia religiosa. Esse chega para lá na fé institucionalizada tem conferido características mutantes na relação do brasileiro com o sagrado, defende a professora Sandra, de ciências sociais e religião da Umesp. “Deus é constituído de multiplicidade simbólica, é híbrido, pouco ortodoxo, redesenhado a lápis, cujos contornos podem ser apagados e refeitos de acordo com a novidade da próxima experiência.” Agora é o fiel quem quer empunhar a escrita de sua própria fé.

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