Durante séculos esta doutrina tem sido considerada como doutrina típica das Igrejas Reformadas, não apenas em contraste com a Igreja Católica, mas também àquela das Igrejas Luteranas. Isso estimulou as pessoas a não devotar muita atenção ao tema Predestinação, que foi impropriamente equiparada com o verdadeiro âmago de sua fé religiosa, a saber, a doutrina da Eleição. Como os pais das igrejas reformadas se conduziram para ensinar essa terrível teoria teológica em nome do Evangelho bíblico?
A doutrina da Predestinação de Zwingli é apresentada principalmente em seu grande sermão, De Providentia, pregado em Marburg. Seu ponto de partida mostra que aqui estamos lidando com filosofia especulativa, e não com teologia cristã. Este ponto de partida, do qual tudo que segue é desenvolvido, é a idéia de Deus como o “Summum bonum”. Esta idéia não pertence à concepção de Deus e à revelação, mas àquela da especulação platônica. Aqui tem-se uma concepção Neo-Platônica do Ser Absoluto.Com essa doutrina especulativa do Absoluto, combina-se um conceito platônico do Mal, que deriva o mal da esfera mais baixa do sentido.
Depois disso a doutrina da Predestinação se desenvolve inteira e completamente, como foi inevitável, fora da doutrina de Deus como a causa de tudo que acontece. Assim, tudo passa a ser derivado da pan-casualidade de Deus. Se Deus é a Causa do pecado, e da condenação que isto incorre, então muito mais Ele é a causa do Bem, e da salvação, para a vida eterna. Então, segundo Zwingli, tudo é obra de Deus somente.
Isto nada tem a ver com a teologia cristã, mas é uma metafísica racional, parcialmente Estóica em seu caráter, e parcialmente Neo-Platônica.
A doutrina de Calvino sobre a Predestinação é totalmente diferente, tanto em seu caráter como em sua origem. Essa doutrina tem como ponto central a Eleição em Jesus Cristo, onde só a Graça de Jesus Cristo leva à idéia da livre Eleição Divina.
Calvino também teve influência de seu líder eclesiástico, Agostinho,único grande mestre da Igreja Antiga que deu ensino bíblico digno de confiança sobre o tema Pecado e da Graça, isto é, que se ocupou com o principal problema da teologia reformada. Ele, também, foi o primeiro a combinar esta doutrina da graça com aquela da dupla Predestinação.
Resultado deste estudo: A bíblia não contém a doutrina da dupla Predestinação, embora uns poucos textos isolados[1] parecem concluí-la. A bíblia ensina que toda salvação está baseada sobre a Eleição eterna de Deus em Jesus Cristo, e que esta Eleição eterna advém total e inteiramente da soberana liberdade de Deus. Mas onde quer que isso aconteça, não há menção de um decreto de rejeição. A bíblia ensina que ao lado do eleito há aqueles que não são eleitos, que são “reprovados”, e na verdade que aqueles são a minoria e estes a maioria.
A doutrina do duplo decreto não só não está apoiada pela evidência da Escritura, como também é impossível equipara-la com a mensagem bíblica. Conduz a uma compreensão de Deus e do homem que é contrária àquela contida na revelação. Leva a conseqüências que estão em absoluta e direta oposição às declarações centrais da bíblia. Essencialmente, é impossível considerar a vontade que concebe este duplo decreto com a mesma vontade que está representada como Ágape no Novo Testamento. Todo os argumentos de Calvino contra essas objeções chegam ao mesmo ponto no fim: estes dois conceitos devem ser conservados junto no pensamento, porque ambos são declarados na Palavra de Deus. Deus é amor, essa é a clara mensagem da bíblica. Deus concebeu o duplo decreto, esta é – de acordo com a opinião errada de Calvino – igualmente clara, a mensagem bíblica. Assim, alguém deve identificar o Deus do duplo decreto com o Deus que é Amor.
As conseqüências da doutrina da Predestinação são tão desastrosas para a compreensão do homem como são para a idéia de Deus. Predestinação no sentido de “duplo decreto” é o mais desapiedado determinismo que pode ser imaginado. Antes de ter existido qualquer coisa no mundo, antes de ter existido algo como o tempo, causas, coisas, e criaturas, já foi fixado, não apenas que existiria estes dois tipos de seres humanos, pecadores que estariam perdidos e pecadores que estariam salvos, mas também que cada ser humano que Deus criará, a qual de ambos os grupos pertence.
Finalmente, as conseqüências para a soteriologia não são menos sinistras. Se esta doutrina é verdadeira, o que se usa para pregar o Evangelho e chamar homens ao arrependimento? Aquele que está indo para ser salvo será salvo de qualquer modo, e aquele que está condenado à destruição de qualquer modo está perdido. O convite à decisão que toda pregação contém é meramente um artifício, porque a decisão é uma ilusão. Todas as conseqüências absolutamente devastadoras da doutrina da Predestinação para a Fé Cristã e para a atividade na Igreja devem, temos a sensação, ter sido indistintivamente sentida por Calvino e por outros teólogos que abraçaram estas visões, mas eles não admitirão que os importunem.
Mas, a doutrina da dupla Predestinação não é o único equívoco que ameaça a genuína doutrina bíblica da Eleição. Por outro lado, do lado oposto, encontra-se a não menos perigosa falsa doutrina, a qual é igualmente inconsistente com a Fé ensinada nas Escrituras, a doutrina da restauração final de todos os homens – a declaração: todos foram eleitos desde a eternidade, portanto, todos participarão da vida eterna.
Assim como é impossível combinar a idéia do duplo decreto, no sentido no qual Calvino usa, com amor de Deus, assim é impossível combinar a doutrina da salvação universal com a idéia da Santidade de Deus.
Ambos os erros, a doutrina do Duplo Decreto e da Salvação Universal, igualmente eliminam a tensão vital, baseada na dialética da Santidade e do Amor de Deus, por meio de um schema monista. Ambos tentam evadir-se da verdade da liberdade de Deus, que é intolerável para o pensamento lógico, pelo estabelecimento de uma doutrina fixa: por um lado, de uma maneira pessimista, em trevas, e por outro lado alegremente e otimista. Ambos buscam uma solução que satisfaça a mente. Logicamente satisfatória, embora terrível para o coração, é a doutrina do duplo decreto. Logicamente satisfatória, embora devastadora para a consciência é a doutrina da certeza da salvação de todos os homens. A doutrina bíblica da Eleição não conhece nenhuma nem outra destas soluções racionais lógicas. Ela ensina a doutrina do Deus Santo e Misericordioso, que em Cristo Jesus escolheu todos os que nEle crêem desde a eternidade, mas que rejeita aqueles que recusam esta obediência de fé.
Portanto, a doutrina da Eleição não é inteligível em teoria, mas só na decisão da fé, não como uma doutrina - “sobre”, mas apenas como uma dirigir-se ao “Thou”, como a Palavra de Deus, que em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, dirige-se a nós de tal modo que devemos crer, estamos aptos a crer, e precisamos crer.
Assim, a doutrina cristã da vontade de Deus está em inteira harmonia com a doutrina cristã da Natureza divina. O paradoxo da fé da Santidade e do Amor de Deus os quais são idênticos em Cristo, mas são contraditórios, fora dEle, corresponde ao paradoxo da fé que Deus em Cristo elegeu todos os que nEle crêem, mas não aqueles que recusam dar-lhe obediência e fé. A revelação cristã, com sua exigência por obediência, confronta-nos com esta convocação; na verdade, é apenas na revelação cristã que vemos que esta decisão de “vida ou morte” tem que ser feita; é só do ponto de vista da revelação que a existência humana adquire esta tensão infinita. Fora da fé o homem nada conhece disto, mas vive, admitindo muitas coisas, quer seja ele um otimista ou um pessimista, ou em engano Utópico ou em resignação desesperada. Só a fé conhece o abismo do qual Cristo liberta.
[1] O capítulo nove da Epístola aos Romanos é freqüentemente enquadrado na doutrina da dupla predestinação, e por esta razão requer cuidadosa consideração. É por isso importante mostrar claramente a associação desse capítulo com os dois seguintes. Eles não lidam com a salvação e maldição do indivíduo, mas com o destino de Israel. Assim, o ponto de vista em si é completamente diferente da doutrina da Predestinação.
amigo me perdoe! mas eu não entendi direito o verso 8 do capitulo 9 de romanos! pode colocar um poste no seu blog.
ResponderExcluir8 - Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.
ResponderExcluirAqui Paulo quis dizer, que os judeus são o povo escolhido de Deus, e que os que nascem nos dias atuais e Israel continuam sendo os escolhidos (apesar de não estar cumprindo com os estatutos de Deus, que só ocorrerá no Milênio), não pela localidade onde nascem (Israel), ou por serem filhos carnais de "israelitas", e sim porque são descedência de Abraão, o qual Deus fez promessas.
Com isso, Paulo não quis dizer que Israel já era eleito de Deus na eternidade, mas que foi escolhido como povo de Deus, por causa de um homem de Deus (Abraão).